15 de agosto de 2010 | 00h00
Qualquer morador de Paraisópolis dispara hoje uma dúzia de marcas conhecidas ao falar sobre como estão as condições da favela mais extensa da capital paulista. A escola com biblioteca e os melhores professores são de uma empresa de seguros, a quadra de tênis sensação da garotada pertence à Bolsa de Valores e o hospital onde todo mundo quer agendar consulta carrega a grife Albert Einstein. Até nome de atriz é lembrado quando alguém fala do lugar com acesso à internet mais veloz.
Em Paraisópolis, 64 entidades desenvolvem projetos que vão da reciclagem de lixo à distribuição de enxovais para recém-casados. Nem de perto outras áreas carentes têm tantos trabalhos gratuitos feitos por instituições privadas. Na mais populosa favela paulistana - Heliópolis, também na zona sul -, são 24 entidades para 220 mil moradores.
Já na ocupação ao lado do Morumbi, os 80 mil habitantes contam com serviços gratuitos oferecidos por ONGs e empresas que querem vincular seu nome à favela. Desde o início da reurbanização, em abril de 2007, Paraisópolis ganhou mais espaço na mídia."Temos muita gente séria que está aqui desde os anos 1980. Mas, com as obras públicas de habitação e saneamento, teve ONG que buscou se vincular à ocupação só em busca de efeito midiático, até porque os vizinhos do Morumbi são potenciais doadores", conta Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores e do Comércio de Paraisópolis. Ele conta que no começo do ano um argentino apareceu com um projeto de inclusão digital, captou dinheiro e foi embora sem criar o curso.
"O poder público se acomodou ao ver que as entidades assumem a gerência de hospitais e de escolas. Esse trabalho deveria ser apenas complementar", critica Rodrigues.
Segundo Elisabete França, secretária-adjunta de Habitação, o governo trabalha para integrar as associações para que elas não façam o mesmo trabalho. "As entidades são sempre bem-vindas quando se trata de uma região da grandeza de Paraisópolis."
Mudança. A Prefeitura e os governos federal e estadual estão investindo R$ 1,2 bilhão na transformação de Paraisópolis em um bairro regularizado. Centenas de barracos já deram lugar a novos conjuntos habitacionais e boa parte dos moradores antigos conseguiu novos imóveis. O comércio ganhou cara nova, com lojas de redes nacionais.
Mas a importância das ONGs na saúde, educação e cultura se tornou ainda maior. O site da Prefeitura enumera, ao lado de escolas municipais, 24 entidades. Uma delas é a Associação Crescer Sempre, que atende 600 alunos e é mantida há 12 anos pela seguradora Porto Seguro. "Na hora de um cliente contratar um seguro, o projeto social pode ser um diferencial", diz o coordenador Marcelo Carvalhaes.
ONG de atriz. A participação das ONGs garante cinco bibliotecas à favela, número sem igual em outros bairros. "Temos turmas de informática de manhã e à tarde", conta a empresária Nadia Bacchi, da ONG Florescer - patrocinada por um portal de notícias e com apoio do estilista Alexandre Herchcovitch. Nádia é mãe da atriz Karina Bacchi, que ganhou R$ 1 milhão em um reality show e diz ter doado o dinheiro à entidade de Paraisópolis.
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