Para Rodas, ocupar reitoria é 'barbárie'

Reitor defende mudanças nas eleições da USP e diz que postura 'contrária a tudo' de movimentos estudantis atrapalha

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Por Victor Vieira
Atualização:

Em entrevista ao Estado, João Grandino Rodas condenou a postura dos movimentos estudantis de "ser contrários a tudo". Ele ressaltou que mudar decisão do Conselho Universitário (CO) não depende só do reitor.

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Quais são as vantagens das eleições diretas na USP, defendidas pelo senhor em julho?

O que defendi, por ocasião das comemorações do Nove de Julho, foi que as eleições de todos os representantes das diversas categorias que compõem a USP tivessem o mesmo grau de amplitude, transparência e controle externo. Isso se aplicaria indistintamente a todos os que possuem a representação de segmentos da universidade: aos docentes-dirigentes da Universidade, aos membros do Diretório Central de Estudantes e aos representantes das associações de docentes e de funcionários técnico-administrativas. Haveria maior legitimidade com relação ao processo e aos escolhidos. Mais especificamente no respeitante à eleição para dirigentes da Universidade que fossem aprovadas regras claras, possibilitadoras de eleições mediante processo amplo e transparente, após inscrições eleitorais claras, com auditoria externa durante todo o procedimento. Abri a possibilidade para a apresentação indistinta de propostas, bem como foi fixada uma semana de debates das propostas, com apoio e ampla divulgação. De propósito, não apresentei proposta sobre a eleição de reitor, para que ela não fosse tida como proposta chapa-branca. Minha preferência pessoal foi e é que pudessem votar todos os professores, alunos e funcionários, cujos votos seriam ponderados, na base, respectivamente 70%, 15% e 15%.

Quais foram os principais avanços com as mudanças aprovadas no último Conselho Universitário para o processo eleitoral?

As mudanças representaram um grande avanço. Por proposta por mim apresentada, baniu-se, em toda a USP, o voto secreto; mantido somente nos casos de eleições. Para a eleição para reitor e vice, instituiu-se a inscrição prévia das chapas, com necessidade de apresentação dos respectivos programas; a necessidade de os dirigentes-candidatos se desincompatibilizarem de cargos de mando porventura exercidos; além de tornar obrigatória a consulta à comunidade.

Há possibilidade de reformar as decisões do último conselho, como pedem os alunos?

A revogação ou alteração de decisões do Conselho Universitário depende de projetos extintivos ou modificativos. Eles precisam ser examinados por alguns órgãos do próprio CO, colocados na pauta do referido conselho e nele aprovados. Não é coisa que se faz em alguns dias e, muito menos, por vontade de uma pessoa, mesmo que seja o próprio reitor.

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A gestão da USP é democrática? Como aproximar a direção da comunidade universitária?

A partir das mudanças aprovadas na sessão do Conselho Universitário de 1º de outubro, a gestão universitária está no caminho de aperfeiçoamento democrático. Tanto nas unidades, como nos órgãos centrais, há inúmeros órgãos colegiados decisórios em que alunos, professores e os funcionários técnico-administrativos são representados. Se todos os representantes participassem efetiva e ativamente, a USP poderia estar em estágio ainda mais avançado. Seria proveitoso que a postura de “ser contrário a tudo” e “do quanto pior melhor” fosse substituída por postura firme de reivindicações e de colaboração, em posição de igualdade, com os órgãos administrativos.Não se abre diálogo quando se conspurca a reunião do principal colegiado representativo, com a quebra - com barras de ferro e de marretas - de patrimônio público. brandidos por pessoas alheias à universidade; com as ofensas gritadas (e que se encontram gravadas, como é praxe com as sessões do Conselho). Nem quando se permanece dias e dias num prédio e se formam piquetes para impedir, pela força, centenas de funcionários de entrarem em seus lugares de trabalho. Isso é barbárie. É fazer pouco dos R$ 4 bilhões que os 42 milhões de paulistas recolhem anualmente na USP; é colocar um patrimônio de todos na lata do lixo! Estamos sob o regime do estado democrático de direito, em que vige a força do direito, ou passamos a viver sob o jugo do direito da força?

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