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Papa diz a argentinos estar 'enjaulado'

Em encontro com 5 mil conterrâneos, Francisco se queixa de esquema de segurança; pontífice pede Igreja 'barulhenta' e 'nas ruas'

Por Jamil Chade e Rio
Atualização:

Francisco está no Rio, é o bispo de Roma, mas ontem, por alguns minutos, voltou ao posto de cardeal de Buenos Aires diante de 5 mil jovens argentinos, na Catedral do Rio, e com outras 30 mil pessoas amontoadas pelas ruas do centro. Em discurso de improviso, pediu uma Igreja "barulhenta" que "saia às ruas". No fim do encontro, desabafou a alguns conterrâneos: "Como é ruim estar enjaulado. Teria gostado de estar mais perto de vocês", disse, em tom de crítica ao esquema de segurança no Brasil.

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O sumo pontífice chegou a se queixar do esquema de segurança montado no País para sua viagem e os obstáculos que isso cria em seu contato com os fiéis. "Por momentos, me sinto enjaulado", declarou. Na preparação do evento, o papa insistiu que gostaria de usar a viagem para se aproximar dos católicos e, em diversas ocasiões, o Vaticano teve de confrontar os planos do governo brasileiro, que insistia em um esquema de segurança maior para o papa.

O encontro de ontem com os argentinos, apesar das reclamações do santo padre, foi animado. É a primeira vez, desde que foi eleito papa em março deste ano, que Francisco fica tão perto de Buenos Aires. Ele não havia deixado a Europa e não encontrara tantos conterrâneos em um só lugar. O evento foi um pedido seu.

Enfático, o sumo pontífice repetiu o que já declarou em Roma e insistiu que a Igreja não pode ser apenas uma ONG. "Espero uma confusão na Jornada Mundial da Juventude, mas quero confusão e agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Quero que a Igreja vá para as ruas. Quero que nos defendamos de tudo que seja acomodação e ficar fechado em torno de nós mesmos. As paróquias devem sair às ruas. Senão, acabam se transformando numa ONG. E a Igreja não pode ser uma ONG", declarou. "Não podemos esvaziar a fé", disse.

Outro pedido do santo padre foi para que nem jovens nem velhos sejam excluídos da sociedade contemporânea.

O papa se surpreendeu com o número de argentinos. "A maioria dos jovens passou a noite toda aqui. E a maior parte permanece do lado de fora. Essa juventude vai ajudar a construir um mundo mais fraterno. Eles querem receber o espírito do Santo Cristo. Muito obrigado pelos que estão aqui e pelos que estão lá fora", disse Francisco.

O público não escondia a emoção. O padre Claudio Pisano, de Buenos Aires, ressaltou que o papa usou expressões argentinas. "São palavras muito próprias dele. A ideia é que a Igreja chame atenção para si de forma alegre", disse o padre, ordenado em 2002 por Bergoglio.

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A contadora Lorena Chagas, de 26 anos, e o professor de música Nicolás Marin, de 28, foram os eleitos para levar a Francisco a Cruz de São Damião, abençoada pelo pontífice. Coordenadores nacionais da Pastoral da Juventude da Argentina, eles contaram que a cruz, um símbolo franciscano também chamado de Cruz de São Francisco de Assis, será levada às periferias de seu país.

Longa fila.

A espera dos fiéis argentinos começou ainda na noite de anteontem. Por volta das 19 horas, os grupos já formavam filas e enfrentaram frio de 12°C. "Foi muito sacrifício, mas toda espera valeu", disse Cristina Ferreira, de 37 anos.

A movimentação dos peregrinos chamou a atenção de Eliana Santos, de 40 anos, que mora em um prédio ao lado da igreja. "Quando vi a quantidade de gente na chuva, me enchi de alegria pela fé daquelas pessoas", disse. Ela ofereceu café, chá, pão de queijo e broa aos peregrinos.

Muitos que pernoitaram na fila não conseguiram entrar. "Cheguei às 23 horas, mas não consegui. Não fico decepcionada, pois o objetivo é a unidade da fé e a felicidade que a bênção do papa dá a todos, mesmo a quem não o vê", disse a argentina Rocio Solinas.

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