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Pai de jovem morto sem UTI sofre na fila de leito em SP; família relata um dia de espera em cadeira

Valmírio Lopes, de 49 anos, sentia dor no peito e mal conseguia falar, segundo parente; secretaria diz que paciente foi transferido para unidade de referência

Por Luiz Carlos Pavão
Atualização:

Infectado pelo novo coronavírus, Valmírio Lopes Cardoso, de 49 anos, ficou quase 24 horas sentado, à espera de transferência para um leito, em unidade de saúde da capital paulista nesta quarta-feira, 24. Ele é pai de Renan Cardoso, de 22 anos, primeiro paciente da covid-19 a morrer na fila por vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade. 

De acordo com a família, Valmírio testou positivo na última sexta-feira, 19, e estava cumprindo isolamento em casa. No último sábado, porém, sentiu piora e foi buscar atendimento no Hospital Santa Marcelina de Cidade Tiradentes, na zona leste. 

De acordo com a família, Valmirio Cardoso ficou por quase 24 horas à espera de um leito de enfermaria ou UTI. Foto: Paulo Henrique Marques Lobato/Arquivo pessoal

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“O quadro dele piorou, a gente veio ao hospital no sábado. A médica mandou ele embora porque na sua avaliação não tinha necessidade dele ficar internado”, afirmou ao Estadão Paulo Henrique Marques Lobato, sobrinho do paciente.

Na tarde desta terça-feira, 23, porém, Valmírio procurou novamente o mesmo hospital para ser atendido, pois estava com dor no peito e não conseguia falar. Após triagem e exames, foi constatado que mais de 50% do pulmão estava comprometido e ele teve de receber oxigênio.

Paulo Henrique, que o acompanhou, afirmou que não havia vaga para enfermaria ou UTI na unidade de saúde. Miro, como é conhecido, teve de ficar sentado em uma cadeira até que a transferência para o Hospital Geral de Guaianazes, também na zona leste, fosse realizada, segundo o sobrinho. Isso só aconteceu na tarde desta quarta. 

“Ontem (terça) chegamos ao hospital Santa Marcelina de Cidade Tiradentes por volta das 15h, lá o Valmirio passou pela triagem, a saturação foi aferida e estava em 89, com necessidade de oxigênio. Depois de longa demora, ele passou pelo médico que pediu cinco exames e uma tomografia", contou Paulo. "O médico disse que ele estava com mais de 50% do pulmão comprometido. Enquanto isso, durante a medicação aguardamos vaga na enfermaria porque não havia UTI disponível. Ele estava sentindo muita dor no peito, não conseguindo falar, e ficou desde  15h40 de ontem até 13h de hoje (quarta) sentado numa cadeira esperando vaga na enfermaria para conseguir deitar e ele não conseguiu”, acrescentou.

Paciente em maca do Hospital Santa Marcelina-Cidade Tiradentes após quase 24 horas de espera por um leito. Foto: Paulo Henrique Marques Lobato/Arquivo pessoal

De acordo com o familiar, apenas uma hora depois foi possível colocá-lo em uma maca. “Consegui arrumar uma maca para ele deitar. Mas, mesmo assim, eles disseram que não tinha lençol, peguei um pedaço de papel e forrei ela com álcool em gel. Foi quando ele conseguiu descansar por volta de uma hora e meia até ser transferido”, disse.

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Após o que ocorreu com Renan, a família temia que ele não conseguisse um leito. “Estamos muito preocupados mesmo, com medo de acontecer com ele o que aconteceu com o Renan. Eles viviam em três: o pai, a mãe e o filho. Não tinha ninguém mais por eles. E infelizmente perdemos o Renan. Se a gente perder o tio Miro, o que vai acontecer com a tia? Ela é diabética, tem pressão alta, acamada, estamos temendo muito isso", afirmou o sobrinho. 

Momento em que Valmirio Cardoso, de 49 anos,foi transferido para o Hospital Geral de Guaianazes. Foto: Paulo Henrique Marques Lobato/Arquivo pessoal

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou ao Estadão que o paciente foi acolhido no Hospital Santa Marcelina-Cidade Tiradentes, nesta terça feira, e foi prontamente atendido, realizando os exames laboratoriais e tomografia computadorizada de tórax. Nesta tarde, foi transferido para o Hospital Geral de Guaianases (HGG), referência para o atendimento dos casos de covid-19 na região, para continuar o tratamento. A pasta não se manifestou especificamente sobre o relato do parente, de que Valmírio teve de ficar quase 24 horas sentado à espera de vaga em um leito. 

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