Os colecionadores de taxímetros

Dono e funcionário de oficina que conserta contadores têm saudade da época em que a função ''era trabalho de relojoaria''

PUBLICIDADE

Por Edison Veiga
Atualização:

Que figuras! - Jorge Longo e José Carlos de Moura"Nosso foco maior, nosso prato principal, sempre foram os taxímetros", conta Jorge Longo, de 37 anos. E ficam lá, exibidos com orgulho em uma prateleira de sua pequena oficina, na Mooca, zona leste, pedaços da história do táxi em São Paulo. Jorge guarda como troféus todos os modelos de taxímetro com os quais sua empresa, a Auto Geral Pardal, já trabalhou. Fundada em 1969 - por Mariano, pai de Jorge, que morreu em 2009 -, ela foi testemunha das mudanças tecnológicas. É uma das 32 oficinas credenciadas na cidade com autorização para mexer nos taxímetros quando eles apresentam algum problema ou quando, como recentemente, há alteração na tarifa.Na coleção de Jorge há 22 modelos. Os mais antigos são de corda e mecânicos. "Todo dia de manhã o taxista precisava dar corda antes de começar a trabalhar", explica Jorge. Depois, surgiram os elétricos, ligados na bateria do carro. Em seguida, apareceram os digitais - "o primeiro deles, no fim dos anos 1980, ia acoplado no lugar do rádio do carro", conta Jorge. Há até, do início dos anos 1990, um de cristal líquido, que não pegou. "Não deu certo porque os bandidos roubavam muito... Achavam que era televisãozinha", ri o funcionário José Carlos de Moura, de 58 anos, que instala, desinstala, desmonta e conserta taxímetros desde os 10. E é José Carlos quem detalha como era o primeiro taxímetro de São Paulo, peça que falta na coleção de Jorge. "Era tão grande que ficava do lado de fora do carro, perto do retrovisor." E os carros, José Carlos? Instalou muito taxímetro em Fusca? "Que é isso, rapaz! Fuscas eram carros modernos. Quando comecei, o que tinha mesmo era táxi DKW, Aero Willys, Itamaraty, Galaxy 500... Até Gordini aparecia." Os dois têm saudades de quando os taxímetros eram mecânicos. "Era um tempo bom, sabe? Ia o dia inteiro para ajustar um. Sabia que dentro de um desses (aponta para um dos antigões) existem 365 pecinhas? Os de hoje não dão trabalho...", diz José Carlos. "Para você ter uma ideia, na época do último reajuste da tarifa, agora, no início do ano, chegamos a acertar 130 por dia. É só trocar um chip, muito rápido", completa Jorge. "Pois é... Ajustar taxímetro era trabalho de relojoaria", lamenta José Carlos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.