‘Os Catulovers’: bebida sensação tem legião de fãs

Há quem a considere ruim, mas o carnaval mostrou que a maioria provou, consolidando a modinha da catuaba; demanda duplicou em dezembro

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Por Edison Veiga
Atualização:

Alalaô que a turma do funil no carnaval só quer mesmo saber de catuaba. A bebida, antes consumida mais em botecos, por um público mais velho e menos abastado, agora virou modinha – “catulovers” a chamam de cool, a chamam de cult, a chamam de querida, a chamam de meu amor.

A profusão de garrafas à venda nos blocos – por R$ 25, por R$ 30, por R$ 35, enquanto no mercado custam R$ 12 – foi percebida até por forasteiros. “Pois é, quando vi que tinha, não resisti e comprei”, conta a estudante de Psicologia Luiza Pimentel, de 20 anos, que veio de Taubaté, no interior de São Paulo para curtir a folia da capital. Atleta profissional, o soteropolitano Bruno Jacob, de 29 anos, estranhou. Ele estava em São Paulo no feriado para visitar a família da mulher e tinha ido almoçar em um restaurante de Pinheiros, coração da muvuca carnavalesca. “Na saída, meu sogro comentou comigo: ficamos abismados com tanta gente vendendo e tanta gente bebendo catuaba. É uma bebida muito ruim”, diz.

Ian Nunes e Ricardo China criaram festa e bloco temáticos sobre a bebida Foto: Felipe Rau/Estadão

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Para Luiza, é boa demais. Ela tomou gosto nas festas universitárias. “Antes, a catuaba era vista como bebida inferior, porque é mais barata. Agora que virou moda está até mais cara”, afirma a estudante. “Todo mundo curte. Os que estavam comigo no bloquinho ficaram com preconceito no início, mas depois também beberam.”

Paulistana de Itaquera, a vendedora Thais Santos, de 21 anos, é daquelas que, já que as águas vão rolar, garrafa cheia não quer ver sobrar. “Eu acho incrível, sempre tomo em casa. Mas no carnaval eu comprava em supermercado e levava – porque na rua estavam cobrando muito caro”, conta.

Maior fabricante da bebida no País, a empresa Arbor Brasil comemora o modismo. “Sabíamos que seria esse sucesso no carnaval porque em dezembro registramos a maior venda de nossa história, o dobro da média mensal”, conta Marco Tulio Hoffmann, diretor executivo da marca (mais informações nesta página). “Eram os distribuidores se preparando para a demanda.” Dono de um bar na região da Rua Augusta, Tony Carlão concorda. “Aqui a catuaba já é o carro-chefe, sobretudo nas noites de quinta-feira. Neste mês de fevereiro, entretanto, as vendas aumentaram 30%”, compara.

No século 21, nem colombina nem pierrô apaixonado tomam mais vermute com amendoim – vão mesmo é de catuaba. “Eu já gostava antes de ser moda”, conta a designer Isabella Novaes, de 26 anos. “Acho que bomba no carnaval por causa do preço. Vale muito mais a pena do que vodca, por exemplo. E é docinha, fácil de beber.”

Alto teor alcoólico. E se todo mundo bebe, ninguém dorme no ponto? É o que dizem, pois a catuaba – que além de vinho, maçã e álcool contém extratos de marapuama, guaraná e catuaba – é estimulante do sistema nervoso central, um assombro, sassaricando.

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“Eventualmente, também provoca um efeito estimulante à libido”, comenta o médico fisiologista Turíbio Leite de Barros, ex-professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mas não pense que catuaba é água, catuaba não é água não. “Tem álcool. Catorze por cento é muito. Todo cuidado com os excessos”, adverte o doutor, que não se engana.

E de “catulover” em “catulover” não é que até bloco a catuaba ganhou? “Em 2013 criamos uma festa itinerante chamada A Catuaba. É um evento que reúne tudo aquilo que as pessoas gostam mas tinham vergonha de assumir: o axé music e a catuaba”, conta o DJ e publicitário Ian Nunes, de 28 anos, que inventou a festa com os amigos Ricardo China e Maurício Lima. No ano passado, nasceu o Bloco da Catuaba – que neste ano foi às ruas na tarde de sábado, 4. “Nesse meio tempo, a gente acompanhou a curva de valorização da bebida. Virou cult.”

‘Catudrink’. Não foi apenas em São Paulo que a catuaba conquistou os foliões pelas ruas. Em Belo Horizonte, a bebida também é a preferida nos bloquinhos. A diferença é que os mineiros deram uma incrementada nas versões e criaram a catuçaí, misturada com açaí, e a catucaxi, com abacaxi. Resta saber o que virá nos próximos carnavais.

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