Operação contra o PCC leva à apreensão de cadastro de todos os membros da facção no País

Polícia Civil cumpriu nesta quinta 35 mandados de prisão e deteve Gilberto Ferreira, responsável pelas informações dos criminosos. Suspeito também atuava em 'atacadão das drogas' na Cracolândia

PUBLICIDADE

Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - Operação da Polícia Civil paulista cumpriu 35 mandados de prisão nesta quinta-feira, 29, contra suspeitos de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e comandar o tráfico de drogas na zona leste de São Paulo. Entre os presos, Gilberto Ferreira, o Beto, é apontado como “pen-drive geral” e seria responsável por guardar o cadastro de todos os membros da facção no Brasil.

Objetivo da operação também era combater o “atacadão do crack” Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

PUBLICIDADE

No PCC, “pen-drive” é a denominação para quem exerce cargo semelhante ao de “recursos humanos”. Beto foi pego em São Miguel Paulista, zona leste. Lá, policiais do Departamento de Narcóticos (Denarc) encontraram livros de anotações e arquivos de computador, que seriam o “Livro Branco” e o “Livro Negro” do PCC, segundo as investigações. No primeiro, constaria nome, local, data de ingresso na facção e padrinhos de batismo (quem deu aval para entrada do novo integrante). Já no segundo, haveria a lista de criminosos em débito.

Com o material apreendido, investigadores têm expectativa de mapear toda a hierarquia funcional do PCC, incluindo as lideranças de cada Estado. “Não é o Livro Branco do Estado de São Paulo, é o Livro Branco do Brasil, de todos os Estados da Federação”, disse o delegado Alberto Pereira Matheus Junior, divisionário do Denarc.

Também será possível saber o número exato de membros até a presente data, segundo o delegado. “Hoje, o que temos é especulação”, disse. “Será trabalho não só para o Denarc, mas para a Polícia Civil inteira.”

Cracolândia

Batizada de “Linha Cruzada”, a ação teve oito meses de investigação e nasceu da Operação Campos Elísios 1, de maio de 2017, que desmontou a “feira da droga” na Cracolândia, no centro paulistano. Na época, tijolos de crack eram vendidos a céu aberto em barracas loteadas pelo PCC.

Segundo as investigações, o sistema de comércio mudou desde então. O crack passou a entrar no território em quantias menores e ser vendido por traficantes “independentes”, autorizados pelo PCC. É o chamado modelo “formiguinha”.

Publicidade

No dia anterior, o Denarc já havia deflagrado a Operação Campos Elísios 2, para prender traficantes “pequenos” que vendem diretamente aos usuários. Desta vez, o objetivo era combater o “atacadão do crack”: os fornecedores da droga. 

O Denarc identificou oito células responsáveis por abastecer a Cracolândia. Dos mandados cumpridos, 14 pessoas já estavam na cadeia e as outras 21 nas ruas. Também houve prisões no Itaim Paulista, na zona leste, além de Guarulhos, Poá, Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo.

Segundo investigações, Beto recebia salário para o cargo de “RH” do PCC, mas também atuava como fornecedor. Em grampo, teria sido flagrado reclamando de uma remessa de droga do Paraguai, que seria destinada à Cracolândia. O lote acabou prejudicado após um fungo atacar a plantação de folha de coca. “Hoje, está complicado para os traficantes. Falta crack na Cracolândia”, disse o delegado Carlos Batista, titular da 6.ª Dise do Denarc. “A droga ficou até mais cara. Se antes o quilo da pasta-base custava R$ 8 mil. Agora está por R$ 15 mil.” 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.