08 de novembro de 2021 | 05h00
Depois de quase um ano e oito meses de pandemia, estamos voltando ao trabalho presencial. Não é pouca coisa. Em muitos casos, nossa cabeça e corpo acostumaram-se com a rotina do home-office. Queremos e não queremos retomar os horários e aquilo que ainda chamamos de “velho normal” – aquele do aperto em transportes públicos e encontros com os colegas “de firma”.
O Estadão acompanhou o primeiro dia de volta ao trabalho de João Carlos Pereira de Sousa, 27 anos. Ele é estudante de contabilidade (USP) e analista de dados de uma startup de tecnologia, a Planetun. Sousa representa uma parcela dos brasileiros, a parte que teve o privilégio de ficar em casa durante quase toda a pandemia da covid, e que agora está tentando retomar uma vida um pouco mais normal. “Fiquei meses sem ver a rua. No ano passado, quando a gente pensou que as coisas iam melhorar, cheguei a ir três dias ao escritório, mas logo voltei ao confinamento”, afirmou.
Às 6h20 da manhã de uma quarta-feira, pós-feriado de Finados, a reportagem encontrou Sousa na residência estudantil em que vive, no Butantã, pertinho da USP. “Em home-office, acordava 10 minutinhos antes do início do trabalho, ligava o computador e já estava tudo pronto. Agora, preciso me programar para chegar na hora certa ao trabalho”, disse.
Pelas contas dele, o trajeto até o serviço duraria uma hora, em ônibus e metrô. Além de uma mochila, nosso personagem teve a carga extra de levar um violão. “Primeiro dia e vai ter uma confraternização. Me pediram para levar o instrumento”, contou Sousa, que é do rock e já tocou em banda.
Às 7h saímos da casa de Sousa. Por sorte, o ponto de ônibus fica a menos de cinco minutos do prédio onde mora. No ponto, já era possível encontrar outras pessoas que estavam retomando suas rotinas presenciais. Ninguém estava com uma cara muito contente.
O ônibus não demorou dez minutos. “O bom é que qualquer um que passa por aqui vai até o metrô Butantã”, falou. O problema, de fato, é encontrar o ônibus lotado. “É a primeira vez que ando em ônibus tão cheio. Ainda dá um pouco de medo. Torço para que todo mundo aqui também esteja vacinado”, disse. O trajeto dura um pouco mais de 10 minutos.
Agora, chegamos ao ponto mais complicado de voltar à rotina. Se Sousa achou que o ônibus estava cheio, não imaginava o que iria encontrar no metrô. Esse será o trecho mais longo da jornada diária do nosso personagem. Da estação Butantã ele segue para a Luz, onde faz baldeação até a estação Santa Cruz. Lá, outra baldeação: ele pega a linha lilás para chegar a Moema. Na maior parte do trajeto, principalmente nas estações centrais, os vagões estavam lotados. Impossível não sentir um frio na barriga e algum medo relacionado à pandemia. O reflexo é o de prender a respiração e rezar. “Essa vai ser a minha realidade agora. Acho que para voltar, por volta das 18h, a situação será um pouco pior”, afirmou. Sousa contou que não teve covid, mas que os cuidados foram intensos – principalmente por sua mãe ter comorbidades que podem causar complicações. “Já estamos conversando sobre trabalho híbrido. Acho que esse é o futuro. Certamente, daqui pra frente, serão encontradas soluções para que a gente não precise ir todos os dias ao escritório”.
Por volta das 8h15, Sousa chega ao trabalho em Moema (o pequeno atraso, claro, foi culpa da reportagem). Com o violão nas costas, chegou a errar a porta do escritório (reflexo de muito tempo longe dele). No local de trabalho, mudanças: caras novas, álcool em gel nas mesas e um maior distanciamento entre os funcionários. Uma outra sala está sendo reformada para aumentar esse espaçamento entre pessoas. Claro, como não podia deixar de ser, a volta ao trabalho implica no retorno das “piadas de firma”. “Oi, quanto tempo. Você até cresceu!”, disse a Souza uma colega de trabalho. Foi então que Sousa guardou o violão (a reportagem não ficou para ver o show) e sentou-se em frente ao computador, na sua mesa de trabalho. Foi possível ouvir um suspiro. Ele, finalmente, estava de volta.
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