Onda da dança de salão leva personal dancer às pistas

Busca por profissional que não deixa ninguém ficar sentado cresce nas casas noturnas paulistanas; algumas até contratam professores

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Por VALÉRIA FRANÇA
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Dança de salão deixou de ser uma diversão típica da terceira idade. Para quem cresceu ouvindo rock pode parecer estranho, mas hoje tem muito jovem que gosta de rodopiar aos pares pelas casas noturnas da cidade - em ritmos mais ou menos comportados, dependendo do estilo de cada um. E como nem todos exibem a mesma desenvoltura que os avós em uma pista de salsa ou bolero, o jeito é apelar para o personal dancer. Trata-se de um profissional particular que dá aula da balada. No início, há seis anos, contratar um personal dancer era um serviço de luxo, para poucos mesmo. Hoje, a profissão se popularizou. E tem muitas casas com times fixos de professores que dançam com os clientes sem cobrar. "A ideia é garantir que ninguém fique sentado. A casa tem de ser divertida. E para isso todos devem dançar", diz Charles Ferreira, administrador do Azucar, casa de ritmos latinos, no Itaim-Bibi, na zona sul da capital. Às quartas e quintas-feiras, a partir das 22 horas, dois casais de dançarinos tiram os clientes para dançar. "Tem muita mulher que não sabe dançar e tem vergonha de se arriscar", conta Ferreira. Muitas vezes são os professores que elevam o nível da pista, mostrando técnicas, passos elaborados e uma leveza invejável. O público assiste e se anima mais. Há casas, como o Buena Vista Social Club, no Itaim-Bibi, que ganharam ainda mais fama por terem esse serviço. Chá de cadeira. "Fui numa noite numa casa de ritmos latinos sem personal e levei um chá de cadeira muito chato", conta a assistente executiva Drielle Leite, de 25 anos. Depois disso, ela se matriculou em uma escola de dança de salão, a Solum Academia, na Consolação, região central de São Paulo. "Na aula, aprendo passos e coreografias. Repetimos muitas vezes, mas é muito diferente quando comparado a encarar uma pista de dança. Então, passei a contratar um personal para me acompanhar nas baladas. Faço isso há pelo menos um ano." Ela paga em média R$ 150 por três horas, além da entrada e da consumação do professor. "Ele só bebe água. É trabalho sério."Na Solum, há uma equipe de 20 professores que costumam dar aulas na balada. Cada um é especializado em algum tipo de ritmo. Marcelo Eidy, de 30 anos, ensina zouk, estilo que lembra a lambada do fim dos anos 1980 e vem fazendo muito sucesso entre os jovens. Eidy costuma levar muitas clientes ao Carioca Club, em Pinheiros, quando elas querem praticar o zouk. "As casas noturnas abrem cada vez mais espaço para a dança de salão e para o nosso trabalho", diz o professor. "Além das baladas, São Paulo abriga vários congressos de dança que atraem dançarinos de todas as partes do Estado. A dança de salão virou uma febre", diz Eidy. Prova disso é que aos domingos a Solum recebe 450 alunos que fazem os cursos intensivos da escola. Eventos empresariais e hotéis como o Terras de São José Golf, em Itu, também incorporaram o serviço de personal. A procura é tanta que a pedagoga Lilian Souza, que também dá aula de dança, montou a Equipe Dois Pra Cá, um site com profissionais de várias escolas. "A moda do personal dancer agora está começando a crescer no interior de São Paulo", conta Lilian. Gene Kelly. Quem nunca dançou fica mesmo meio tímido ao entrar em um lugar onde todo mundo parece ter nascido um Gene Kelly. "Se os dançarinos forem experientes, complica mesmo", conta Eidy. "Eles até tiram uma garota nova no pedaço para dançar, principalmente se é bonita. Mas se ela não sabe o que fazer na pista, vai ficar sentada o resto da noite." Há casos em que a principiante, mesmo com boa aparência, é largada na pista no meio da música. Depois de um vexame desses, muitas não voltam. Para deixar o salão mais democrático, há cada vez mais casas recrutando personal. Desde quinta-feira, dia de samba rock, o Carioca Club tem um professor que não deixa ninguém ficar sentado. O Wood's Bar - que reúne os jovens do pop sertanejo, na Vila Olímpia, zona sul - não tem um time fixo de profissionais da dança. Mas até incentiva o trabalho de free lancers como o publicitário Ricardo Nepomuceno, de 43 anos (foto à esquerda), que virou professor de tanto frequentar balada de dança de salão. Toda semana, ele está na pista do Woody's à procura de clientes, mas age de forma discreta. "Sempre tiro para dançar aquela gata que fica batendo o pé no ritmo da música, morrendo de vontade de dançar, mas sem um parceiro para isso", conta. Depois de mostrar um pouco de seu talento, ele puxa conversa e conta que é professor de dança. Algumas vezes, fecha negócio no mesmo instante; em outras, deixa apenas seu cartão. "Tenho sempre vários no bolso." Homens na pista. Na pista, de chapéu e camisa xadrez, ele atrai olhares de homens e mulheres pela habilidade. "Os homens também querem aprender. E eu ensino. Daí arrumo uma parceira para eles e vou mostrando os passos e os movimentos." Nepomuceno explica que o trabalho de personal é diferente do de uma aula. "No salão tem menos técnica. O espaço é limitado e não dá para incomodar os outros clientes com piruetas." Mas até por isso é mais divertido do que uma aula regular em academia.

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