PUBLICIDADE

'Olhei e ele estava passando o pênis em mim. Fiquei em choque, não consegui gritar'

Homem solto após ser detido por ejacular em uma jovem no ônibus tem outras 14 passagens semelhantes na polícia

Por Marianna Holanda
Atualização:
Na terça-feira, passageiros impediram que agressor saísse do veículo,a na Avenida Paulista Foto: Marianna Holanda/Estadão

O homem que foi solto na quarta-feira, após ser detido por ejacular em uma jovem no ônibus, tem outras 14 passagens semelhantes na polícia, registradas nos últimos oito anos. O modus operandi de Diego Ferreira Novais é o mesmo: dentro do ônibus, ele se aproxima da vítima, mostra o pênis e, eventualmente, passa o órgão nela ou ejacula. 

PUBLICIDADE

A história de uma das vítimas de Novais se destaca. G., de 24 anos, foi assediada da mesma forma que todas as outras, em março, na Avenida Paulista. A jovem e seu agressor foram ao Juizado Especial Criminal na segunda-feira para depor - um dia antes de ele assediar a outra moça. 

“A sensação que dá é que minha palavra não serviu para nada”, lamenta a jovem. “Eu não sou ‘punitivista’ nem acho que ele deveria pegar uma sentença longa por esses crimes, mas também não pode continuar fazendo isso com mulheres. É muito frustrante.” Ela sugere alternativas, caso a sentença de ato obsceno se confirme, como o juiz determinar atendimento psicológico ao agressor. 

Veja abaixo o depoimento de G. ao 'Estado': 

Estava voltando da faculdade, em março. Era por volta das 20 horas e o ônibus não estava muito cheio. Eu me sentei ao lado de um rapaz de fone de ouvido e lia, ironicamente, As Boas Mulheres da China, um livro que fala da violência contra as chinesas. Reparei que ele estava sentado mais à frente e, perto de uma parada, se levantou e ficou em pé do meu lado, com uma mochila na frente. Lembro que eu estava de decote e não fiquei confortável com ele ali e até coloquei o livro no colo, com medo de que estivesse olhando. 

Vi que ele estava mexendo na mochila, achei que fosse dentro, mas não era. Fiquei olhando para a janela, mas de repente senti uma coisa no meu ombro, no meu braço. 

Olhei e ele estava passando o pênis em mim. Fiquei em choque, não consegui gritar. Fui correndo falar para o motorista que fui assediada, para fechar as portas e chamar a polícia. Não conseguia gritar. 

Publicidade

Ele forçou a porta e conseguiu sair. Acho que, como ele não tinha fechado a calça, não conseguiu correr direito. As pessoas do ônibus foram atrás dele, que saiu pelo meio dos carros na Avenida Paulista. 

As pessoas começaram a gritar: “segura ele”, “estuprador”. Acho que dei “sorte” por ser na Paulista, em um horário cheio de gente, porque talvez se fosse tarde da noite as pessoas não estariam dispostas a ajudar. Formou uma “muvuca”. Fiquei com medo de linchamento, porque estavam todos muito bravos. Não bateram, porque eu pedi. Sou contra essas coisas, acho que é vingança, não justiça. 

Meu sentimento foi de raiva. Chorei muito, senti repulsa. Depois fiquei meio anestesiada. Fui ajudada por uma moça que estava no ônibus e ficou comigo até o fim do dia na delegacia. Ela tem mais ou menos minha idade e também já foi assediada uma vez. Fizeram a mesma coisa em um trem e ninguém a ajudou. 

Naquele momento, só pensava que aquilo não poderia acontecer de novo com uma outra mulher.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.