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Obra em Paranapiacaba já atrasa 2 anos

Restauração de vila inglesa é condição para candidatura a Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco; PAC repassou R$ 41 milhões

Por Edison Veiga
Atualização:

Escondida sob a terra, parte da história da vila inglesa de Paranapiacaba, em Santo André, no ABC paulista, começa a ser revirada por dois arqueólogos e dois geógrafos. Ao longo dos próximos oito meses, eles devem escavar diversos setores do povoado em busca de fragmentos que ajudem a detalhar como era o dia a dia dos primeiros moradores da região, no século 19. Há também a expectativa de que sejam encontrados indícios de uma antiga rota indígena que passava pelo local, ligando o litoral ao planalto paulista.

Nos próximos oito meses, arqueólogos e geógrafos devem escavar o povoado procurando por detalhes do cotidiano dos moradores no século 19 Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

A prefeitura diz que o cronograma original vai ser respeitado. O Iphan, que acompanha os trabalhos, não vê problemas em um eventual atraso. “São processos complicados”, avalia um dos arquitetos do órgão, Mauro David Artur Bondi. “Devagar e sempre, para dar tudo certo. Não é uma obra comum, é obra de restauração.”

Copo foi encontrado na fase inicial de prospecção Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

Fragmentos. As prospecções arqueológicas ainda estão em fase inicial. “Mas já encontramos componentes das antigas locomotivas, como carvão mineral”, afirma o arqueólogo David Lugli Turtera, que capitaneia os trabalhos. De acordo com registros históricos, nas primeiras décadas de funcionamento da ferrovia não era usado combustível vegetal. “Também identificamos o que chamamos de ‘tralha doméstica’, fragmentos de porcelana e de frascos que podem ajudar a reconstituir o dia da dia dos primeiros moradores”, completa o arqueólogo.

Pedaços de frascos ajudam a reconstituir dia a dia da antiga vila Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

Após o trabalho de coleta, todo o material será catalogado e analisado. O plano é que passe a integrar o acervo do Museu de Santo André – mas, em um primeiro momento, ficará sob a guarda temporária do Museu de Arqueologia de Iepê, município do oeste paulista, que tem a melhor estrutura para acondicionar esse tipo de item.

Morador acompanha de perto os trabalhos da equipe no local Foto: GABRIELA BILO | ESTADAO CONTEUDO

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Entre os materiais mais curiosos já coletados está uma garrafa de elixir produzida em Pelotas, no Rio Grande do Sul, por João da Silva Silveira, entre o fim do século 19 e os anos 1940. “Era indicado para combater a sífilis”, comenta Turtera.

Também foram encontrados uma seringa de vidro da marca Becton, Dickinson Ind. Cirúrgicas, a primeira a ser fabricada no Brasil, entre os anos 1950 e 1970, em Juiz de Fora, Minas, e um copo americano personalizado com o nome da tradicional Confeitaria Colombo, fundada em 1894, no Rio. Assim, em paralelo a obras que deixam Paranapiacaba “novinha em folha”, o passado ganha cores e detalhes graças à arqueologia.

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