'O ranking é um indicador muito pobre'

Entrevista com Rodrigo Travitzki, doutor em Educação pela USP

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Por Redação
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O ranking com os resultados do Enem faz um bom retrato das escolas?Sou a favor de indicadores de qualidade, mas não sou a favor do ranking. Ele é uma forma de indicador bem pobre. Você posiciona as escolas como se fossem times de futebol: primeiro, segundo, terceiro, e tem sempre um vencedor e um perdedor. Mas, para a educação, isso é muito perigoso.Por que perigoso?A diferença entre a primeira escola e a décima no ranking não é uma diferença estatisticamente relevante. Ou seja, ela não é uma diferença de fato. A ideia dos indicadores em si, e não do ranking, é a parte boa, que eu acho que era um pouco a intenção do Inep no início. A ideia é que escolas não podem ser uma caixa-preta e precisam mostrar o que elas fazem. Elas estão fazendo um serviço público. Mesmo as escolas privadas fazem um serviço público, um serviço para todos. Então, é claro que as pessoas precisam saber o que está acontecendo dentro das escolas.Como fazer isso então?É preciso ter avaliações externas e internas. Hoje damos muita importância às avaliações externas e o que precisamos é dar para a escola a oportunidade para que ela se avalie seguindo seus próprios critérios. E a comunidade deve participar disso. Muitas vezes, uma boa escola é aquela que atende bem à sua comunidade. No ranking, o que mais influencia a posição de uma escola é a escolaridade dos pais e a renda da família. O capital cultural e o capital econômico chegam a explicar 87% da nota. Como você escolheria uma escola hoje?Eu conversaria com as pessoas e visitaria a escola. Olharia os números? Olharia, claro, porque a gente gosta de números. Mas não daria atenção para eles. Eu conversaria com pessoas que têm filhos nessas escolas, daria uma olhada no recreio, veria como são as aulas.

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