01 de fevereiro de 2013 | 02h03
SANTA MARIA - A fotografia que correu o mundo como uma das principais imagens da tragédia da boate Kiss tem como personagens centrais o personal trainer Ezequiel Lovato Corte Real, 23 anos, e o pós-graduando em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria Bruno Kräulich, 28 anos. "Tirei umas 30 pessoas de lá, mas não sei quem são elas", revela Corte Real, que aparece carregando o estudante nos braços musculosos em um dos tantos movimentos que fez para entrar na casa noturna, sair com uma pessoa e conduzi-la até equipes de socorro, ambulâncias ou veículos particulares que transportavam feridos para hospitais. Kräulich morreu e foi sepultado em sua cidade natal, Tuparendi, na segunda-feira.
O personal trainer foi um dos voluntários que tentaram resgatar as vítimas na casa noturna. Ele estava dentro da casa noturna e, ao ver que as pessoas entraram em pânico e se aglomeraram diante de uma das duas portas internas que levam ao corredor próximo à portaria, correu para a outra e chegou à porta única de saída. Mesmo assim, teve de passar por cima de pessoas que estavam caídas e, quando conseguiu sair do local, foi tomado ao mesmo tempo de um sentimento de culpa e de solidariedade e entrou em ação imediatamente.
Para participar da operação de salvamento, Corte Real lembrou de usar a própria camisa para cobrir o rosto e de prender a respiração enquanto se aproximava das vítimas. O trabalho acabou quando a Brigada Militar informou que não havia mais pessoas vivas nos escombros. O personal trainer e outras pessoas que tiveram atitudes semelhantes foram então procurar ajuda para eles mesmos em hospitais. "Era hora de cuidar do cansaço e do abatimento psicológico", lembra Corte Real. Depois de passar uma noite em observação, ele foi liberado, mas até hoje está tomando medicamentos para prevenir possíveis consequências dos gases que respirou.
O fotógrafo que captou a imagem, Germano Roratto, 30 anos, prestador de serviços para o jornal Diário de Santa Maria, não conhece os personagens nem lembra direito de todas as circunstâncias, mas sabe que a fotografia foi uma das primeiras das quase mil que bateu naquela noite. "Vi o rapaz correndo, carregando alguém possivelmente maior do que ele", recorda. "Ele passou por mim e, com o caminho aberto por um policial, colocou o homem num táxi", descreve. "Depois voltou e seguiu ajudando."
Sobre a fotografia, diz que "não é fantástica, mas, no geral, mostra a situação", que considera "muito chocante".
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