O golpe VIP que derrubou milionários

Estelionatários se passam por representantes de fundo de pensão bilionário para lesar empresários com promessas de investimento

PUBLICIDADE

Por Bruno Paes Manso
Atualização:

Dono de uma empresa de transporte em Itu, no interior de São Paulo, Augusto (que pediu para não ter o nome verdadeiro revelado) ficou entusiasmado com a proposta de um corretor conhecido. Era novembro de 2006. Um fundo de pensão, com R$ 2 bilhões em caixa, queria fazer investimentos no Brasil. Oferecia empréstimo de longo prazo, 5 anos de carência, e 20 para pagar. Os detalhes do negócio foram passados em São Paulo, em uma ampla sala de reuniões que ocupava todo o andar de um prédio na Avenida Paulista, alugado pela empresa A&B, intermediária do fundo. Augusto foi recebido por um homem com terno bem cortado, o corretor Armando Tadeu Burgatto, que o levou para almoçar em um restaurante sofisticado nos Jardins. Soube que para receber o aporte, a empresa de Augusto teria de apresentar um projeto de expansão. Se aprovado, receberia R$ 35 milhões para investir. Burgatto explicou ainda que Augusto teria de oferecer garantias financeiras. O médio empresário da área de transportes foi levado a adquirir debêntures (títulos emitidos por empresas de capital aberto) no valor de R$ 175 mil.Nesse meio tempo, enquanto esperava o capital, Augusto financiou a compra de 35 caminhões, que lhe custaram R$ 8 milhões. Fechou contrato com fornecedores para transporte de mercadorias e reprogramou o futuro da empresa. Mas o dinheiro, que deveria chegar em 2007, não veio. Burgatto sumia por longos períodos e reaparecia dizendo que o aporte não ocorria por entraves burocráticos. No final do ano passado, depois de quatro anos, esgotado, Augusto percebeu que se tratava de um golpe. O Golpe das Debêntures, como é chamado por autoridades, alvo de dois processos em Santa Catarina e outro em São Paulo, tocado pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco)."A quadrilha oferece debêntures sem valor de mercado e fica com o dinheiro. O suposto empréstimo do fundo não existe. Estamos em busca de mais depoimentos para fazer a denúncia e conseguir condenar os estelionatários", afirma o promotor do Gaeco de São Paulo, Neudival Mascarenhas Filho.Por enquanto, pelo menos 21 vítimas de seis Estados já procuraram o Ministério Público paulista e catarinense para reclamar perdas que chegam a R$ 2,8 milhões. Na avaliação dos promotores de São Paulo, esse número é ainda maior porque muitas vítimas não procuraram a Justiça por não saber que se trata de um golpe. "Depois de perder toda a esperança de receber o tal empréstimo, procurei um advogado e descobrimos que os participantes tinham condenações por estelionato. Mas o maior problema não foi pagar os R$ 175 mil, mas a dívida que contraí, o crédito da minha empresa que se esgotou, os fregueses que não honrei. Minha empresa está à beira da falência", diz Augusto, que criou na internet o blog armandogolpeburgatto.blogspot.com para receber depoimentos de vítimas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.