29 de janeiro de 2012 | 03h06
Nascido em 1929, na Rua da Glória, no Bom Retiro, Bednarski cresceu em meio à colônia italiana, vizinho de uma casa que havia sido palco de um crime que escandalizou a cidade em 1917. Nela, morava a família de um italiano que passou a se relacionar com a própria filha depois que ficou viúvo. O incesto gerou dois filhos, que, quando nasceram, foram emparedados no muro da casa deles. Quando a polícia descobriu o crime e tirou a foto no cenário da tragédia, a mãe e a avó de Bednarski aparecem na imagem, entre os curiosos.
"Sou aficionado pelo tema desde sempre. Comecei na polícia ainda menino, com 18 anos, e minha vida inteira foi investigar esses casos. Acho que eles ajudam a entender um pouco mais da história da cidade", diz o curador-policial, que anda até hoje com uma Taurus prateada na cintura, o chamado três oitão. "Alguém com a minha trajetória não pode andar desarmado."
Estão no seu currículo algumas prisões importantes, criminosos que ele define como "bandidos de grife". Casos como o de Benedito Moreira de Carvalho, que ajudou a prender em 1952. O tarado, que agiu por seis anos, seria depois acusado de asfixiar e abusar de oito meninas. Em um dos seus últimos crimes, descobriu-se que o estrangulamento tinha sido feito por um bandido sem dedo indicador. Os investigadores foram ao sindicato dos serralheiros e pediram a ficha dos trabalhadores aleijados. Entre as diversas fichas, chegou a de Carvalho, o único que havia faltado no trabalho, bem no dia em que as mortes ocorreram.
Também prendeu João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, no Paraná, em 1967. Durante seis anos, depois de dois roubos seguidos de morte e dois homicídios, ainda não se sabia a identidade do criminoso. Até que uma "tomada datiloscópica", termo técnico de impressão digital, foi deixada na beira de uma janela. "Conseguimos finalmente descobrir quem ele era. Nós o prendemos em uma pensão. Homem forte, bateu em quatro policiais", recorda-se.
Certos crimes causam calafrios e transformam São Paulo em cenário de filme de terror. Como no episódio ocorrido em uma casa na Avenida 9 de Julho com a Rua Santo Antonio. Lá vivia o professor de Química da USP, Paulo Ferreira Camargo, com a mãe e duas irmãs. Era o ano de 1948, quando a família do químico sumiu. Os vizinhos contaram que o professor da USP havia construído um poço no quintal de casa. O delegado do caso, Walter Autran, pai do ator Paulo Autran, tomou depoimentos do criminoso, que se contradisse. A polícia seguiu para a casa do suspeito, que se matou com um tiro na cabeça. A família morta foi encontrada dentro do poço. "Anos depois, a casa foi comprada e demolida, para dar lugar ao Edifício Joelma, que pegou fogo em 1974. Sou espiritualista, mas acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. São apenas coincidências", diz.
Meneghetti. Com o passar dos anos, segundo o policial, o mundo do crime paulistano mudou demais. Bednarski reclama que a polícia hoje não tem o mesmo poder de antigamente por causa do "Tribunal de Nuremberg" - apelido que ele dá à Corregedoria. Os crimes patrimoniais eram atividades praticadas por amadores. Nos anos 1950, segundo se recorda, os grandes criminosos eram os cafetões da região da rodoviária velha, a boca do lixo de São Paulo, que se transformaria na cracolândia. O ladrão de joias Gino Meneghetti, que chegou a ser preso por Bednarski, por exemplo, para o policial "era um pobre coitado, que corria pelo telhado tomando tiro da polícia". "Vou enviar uma carta ao papa pedindo para que o Meneghetti seja beatificado, coitado. Era um santo se comparado aos bandidos de hoje", diz.
Policial aposentado, Milton Bednarski prendeu criminosos como o Bandido da Luz Vermelha
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