10 de maio de 2010 | 00h00
Fontoura era amigo de Monteiro Lobato (1882-1948) que, em 1914, publica em O Estado de S. Paulo o artigo "Velha praga", no qual define pela primeira vez o perfil do Jeca preguiçoso. Por aquela época era comum a edição de almanaques distribuídos nas farmácias, com o calendário, as fases da lua, as épocas de plantio dos diferentes cultivos, anedotas e conselhos práticos.
Lobato se tornara editor do Almanaque Fontoura, que ao longo dos anos teve milhões de exemplares de tiragem. Em 1924, Fontoura passa a oferecer como brinde, na compra de cada vidro do Biotônico, um exemplar do livreto de Lobato, Jeca Tatuzinho.
A obra, ilustrada, conta a história de um Jeca magro, doente, preguiçoso, mal nutrido. Na passagem de um médico de roça por seu rancho, o caipira fica sabendo que estava na verdade doente, com amarelão. O médico recomenda-lhe o remédio para a doença e de reforço o Biotônico para abrir-lhe o apetite, além de recomendar botinas ringedeiras para proteção dos pés. O Jeca logo se torna um verdadeiro touro, chega a agarrar uma onça pelos bigodes, manda por botinas até em porcos e galinhas. Ao opor-se ao caipira do estereótipo, o Biotônico serviu, entre nós, para difundir a ideologia da modernidade urbana. O livrinho de Lobato teve a edição de mais de 100 milhões de exemplares.
O sucesso do fortificante fez a fortuna de Cândido Fontoura. Mas conta a lenda que um dos fatores dessa fortuna foi também o fato de que ele teria começado a exportar seu remédio para os Estados Unidos, onde vigorava a Lei Seca.
O Biotônico tinha originalmente 9,5% de álcool etílico, o que o tornava um inocente aperitivo. Vendido em farmácia, na América puritana, podia ser comprado como artigo medicinal, sendo, portanto, bebida não pecaminosa. Algo parecido acontecera com a Coca-cola, uma bebida estimulante, do século 19, originalmente vendida em farmácia.
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