SÃO PAULO - Quase ninguém na Grande São Paulo deve ter ouvido falar no aposentado José de Oliveira Bastos, de 77 anos, morador da pacata Extrema, cidade ao sul de Minas Gerais. Mas, em tempos de estiagem aguda, muitos moradores da região metropolitana paulista devem a ele uma parte da escassa água que ainda chega aos reservatórios do Sistema Cantareira, responsável hoje pelo abastecimento de 6,5 milhões de pessoas.
É na fazenda dele que nascem nove riachos que deságuam no Rio Jaguari, o principal manancial que alimenta o Cantareira. Desde 2006, Bastos recebe uma espécie de salário pago pelo projeto “Conservador das Águas” para preservar esses corpos d’água que, mais de 100 quilômetros ao sul, vão sair nas torneiras das famílias paulistanas. Hoje, são cerca de R$ 900 por mês, para conservar uma área de 49 hectares.
“É uma ajuda muito bem-vinda porque eu já preservava as nascentes mesmo antes do projeto, cercando as áreas e deixando o gado um pouco mais afastado. Isso tem dado muito resultado. Ainda hoje, mesmo com essa seca toda, ainda tem água descendo. Diminuiu um pouco, é verdade, mas ainda tem água aqui. Enquanto que sei de uns córregos em Itatiba que já secaram todos”, relata o agricultor.
Para Samuel Barrêto, coordenador do Movimento Água para São Paulo e parceiro do programa em Extrema, o pagamento por serviços ambientais é um grande estímulo para preservação das mata ciliares. “Ajuda a desonerar o produtor. São pequenos proprietários que, sozinhos, não têm condições de recuperar as áreas. Não há recursos ou linhas de crédito para isso”, afirma.
Segundo Devanir Garcia dos Santos, gerente de uso sustentável da água e do solo da Agência Nacional das Águas (ANA), se o pagamento por serviços ambientais, que custam R$ 221,00 por hectare ao ano, fosse implementado para todos os produtores da bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde ficam as represas do Cantareira, e repassado ao consumidor final de água, o impacto na tarifa seria de um centavo por mil litros de água. Para efeito comparativo, uma pessoa consome, em média, 150 litros por dia.
Parque. Em Extrema, alguns produtores rurais acabaram depois vendendo suas terras para a prefeitura, que ampliou o reflorestamento nessas áreas. Agora, o município pretende criar na região um parque ecológico, com espaço para o desenvolvimento de estudos para universidades e de educação ambiental para escolas.