
04 de julho de 2011 | 00h00
Foi só naquele século 18 que São Paulo começou a chegar ao mundo propriamente urbano. Ainda é possível passear por ela, pelo traçado de ruas que daquele século nos restam. Ainda é possível orar e meditar nos mesmos cenários ou diante dos mesmos altares que plasmaram um barroco residual na vida dos paulistanos. Ainda é possível encontrar os mesmos santos cujos olhos já contemplaram aflitos pecadores daqueles tempos do início da era do ouro, que os paulistas descobriram, mas não levaram: mamelucos de botas pesadas e espada à cinta; índios administrados em vésperas da liberdade fictícia que lhes seria concedida em 1758 para viabilizar a escravidão negra mais lucrativa; escravos negros que vinham chorar seu banzo na escarpa fria de Piratininga para abrir ao mundo a nova economia da cana-de-açúcar que não lhes adoçou a vida e do ouro abundante das Gerais e do Goiás que não lhes dourou a existência.
Vejo esses olhos setecentistas quando visito o Cristo agônico, de 1777, na Igreja de São Bento, ali ao pé da capela do Santíssimo. Ou os olhos de Santo Antônio, no altar de 1780, em sua igreja da Praça do Patriarca. Ou quando visito a alma de escravos e enforcados, a alma da injustiça, na capelinha dos Aflitos, de 1779, na Rua dos Estudantes, na Liberdade tão tardia.
Capitão-mor da tropa. São Paulo tornou-se cidade a requerimento dos povos, como se dizia em 1711, quando a Câmara paulistana pediu ao rei que o fizesse. Eram os tempos da Guerra dos Emboabas, do nosso nativismo, começo de quando deixávamos de ser os brasis para ser os brasileiros. Ao partir para combater os reinóis das Gerais, o capitão-mor da tropa de São Paulo em 1709, Amador Bueno da Veiga, disse à Câmara que marchava "por bem da pátria" e para que "não vexassem os paulistas". Os tempos eram outros. Q
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