
28 de novembro de 2010 | 00h00
Havia ali, no tempo das tribos primitivas, um riacho. Canalizado, virou área de chácaras. Loteada no crescimento da cidade, por muito tempo abrigou quintais das casas viradas para as partes altas. Sobre o vale ergueu-se o Viaduto do Chá e na depressão foi cavado o túnel que muita gente ainda chama de "buraco do Adhemar".
Pois, cortando o Anhangabaú, encontramos um outro ícone da expansão paulistana na direção de Santa Cecília, a Avenida São João, aquela da Ronda de Paulo Vanzolini.
Na fascinante consulta aos guardados da cidade, encontra-se a origem do nome da avenida, também ligada ao passado indígena. O córrego que foi "escondido" por canalização no ano de 1906 foi por muito tempo um brejo fétido chamado de Yacuba, grafado em documentos dos 1700 também como Hiacuba.
Mas, como a língua é viva, a palavra virou Hiacu, e chegou a Acu. Por longos anos, houve ali a "descida do Acu", uma ladeira que começava ao lado de onde hoje fica o Edifício Martinelli, na Rua de São João. E, abaixo, a Ponte do Acu. Numa enxurrada, no dia 1.º de janeiro de 1850, a tal ponte sucumbiu.
Paulo Cursino de Moura, citando Afonso A. de Freitas e Sanches D"Orta, jura em seu São Paulo de Outrora que Acu quer dizer água venenosa (Y= água; Acu= veneno), assim denominada pelos índios que temiam as minas d"água insalubres daquela área.
Aí vem o São João da avenida, segundo o cronista: o santo, que nas festas juninas do século 19 era levado pela comunidade para ser banhado, em ritual à meia-noite, e com isso purificar fontes e almas, foi requisitado. Um devoto teve a ideia: levar o João para que limpasse também as águas perigosas do Acu. E a avenida, então, herdou o santo nome.
Nota ao leitor: nascidas para a internet, no Blog da Garoa, as notas dessa "Histórias da garoa" deixam de ser publicadas em papel. Continuam na web.
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