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No lugar de balada, sarau arquitetônico

Escritórios reservam uma noite por mês para falar sem inibição sobre bastidores de projetos

Por Edison Veiga
Atualização:

Para um baladeiro convencional, era uma festa estranha com gente esquisita. Como este repórter não é baladeiro, o encontro mensal dos arquitetos-cabeça de São Paulo, quase sempre num prédio da Rua General Jardim, no centro, parecia um programão para quinta-feira. Arquitetos de uma dúzia de escritórios com perfil parecido - meio intelectuais, meio de esquerda, com projetos nada pasteurizados e foco em concursos e obras institucionais em vez de mansões - se reúnem em um sarau. Não de poemas, mas de projetos. O evento tem nome: Arquitetura Sem Reservas. Na quinta-feira passada, o anfitrião era o Bacco Arquitetos Associados, um dos sete escritórios no mesmo antigo prédio da General Jardim. Os donos da casa preparam o tema a ser discutido e os comes e bebes. Às 18h30, o povo começava a chegar. Cada qual já abria sua latinha de cerveja ou enchia o copo de uísque e o papo era intercalado por mastigadas nas coxinhas e rissoles. Quarenta e cinco minutos depois, os cerca de 50 participantes estão sentados - a maioria no chão, não há cadeiras para todos -, com cerveja na mão, ouvindo a palestra. O tema escolhido era o programa Terças Insanas: toda terça, os 17 arquitetos do Bacco interrompem as atividades para discutir temas urbanísticos. "Isso está incorporado ao nosso modo de produção", conta Marcelo Barbosa, um dos sócios do Bacco e o "palestrante" da noite.Origem. A primeira reunião, bem menor, foi em novembro de 2008, no FGMF Arquitetos, na Vila Madalena. A equipe do Piratininga Arquitetos Associados, da General Jardim, foi convidada para falar sobre os bastidores da reforma da Biblioteca Mário de Andrade. "Foi um bate-papo", lembra Lourenço Gimenes, sócio do FGMF. "Aí resolvemos fazer outro, no qual eles deveriam apresentar um projeto", diz Renata Semin, do Piratininga. "O combinado era falar tudo, até das dificuldades, sem esconder nada.""Arquiteto é um bicho vaidoso, que não admite erros. Esses encontros servem para romper com essa visão provinciana da profissão", diz Gimenes. No início de 2009, a ideia já havia contagiado outros escritórios. "Acabou virando um lugar para mostrar projetos de modo menos pragmático e mais especulativo", explica Martin Corullon, um dos sócios do Metro Arquitetos. O intercâmbio de ideias é incentivado. "Vem todo mundo: dos estagiários aos sócios", afirma Jupira Corbucci, também sócio do Bacco.

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