
26 de março de 2012 | 03h02
O inverno para quem mora na Serra da Cantareira não é nada fácil. São dois, três cobertores, edredons, e mais de uma meia no pé. Juliana Ribeiro Reis tem três filhos, a mais nova de 2 anos e 8 meses. A pequena Letícia nasceu no meio de julho, mas teve sorte de ganhar um aquecedor. "Para dar banho, eu ligava o chuveiro bem quente e enchia a banheira. Aí colocava o aquecedor dentro do banheiro para, aí sim, tirar a roupinha dela", contou a auxiliar de escritório.
Os outros dois filhos, adolescentes de 13 e 15 anos, não tiveram a mesma sorte. "Na época, como não tinha aquecedor, tinha dia que eu nem dava banho, só passava um paninho, de tão frio que fazia."
Há também quem diga que o problema é a amplitude térmica da região. "O frio é grande, mas o calor também estava demais nesses dias. Aqui a temperatura é muito exagerada", disse o pintor Frederico Kampf, de 57 anos.
O verão na zona norte, no entanto, não chega a ser tão severo quanto o de alguns locais da zona leste, como o Itaim Paulista, por exemplo. Gente andando com guarda-chuva em dia seco é cena comum por lá. "Uso para me proteger do sol, aqui é muito quente. Lá em casa, pelo menos bate um ventinho. Aqui, nem isso", reclamou a dona de casa Eliana Guimarães, de 42 anos, que mora em Itaquaquecetuba, mas todos os dias pega o trem para o Itaim Paulista para tomar conta da sobrinha.
"Assim que ponho o pé fora da estação (da CPTM) já pego a sombrinha, óculos escuros e garrafinha de água, fora o protetor solar fator 50. Não gosto de andar sob esse sol."
No mercadinho, os itens mais vendidos são biquíni, óculos escuros e boné. "O pessoal toma sol nos clubes da região e até na laje", contou o vendedor Cleber Alves, de 20 anos. "O ventilador tem de estar sempre ligado no máximo, senão a gente não aguenta ficar aqui dentro."
"Não podemos ficar sem sombrinha. Minha filha pegou conjuntivite e, quando está muito sol, o olho dela fica mais inchado. Temos de tomar cuidado, senão ela pode ficar até cega", disse a dona de casa Gilmara Moura Nascimento, referindo-se a Stephanie, de 12 anos. "A mais velha, de 19, também não pode tomar muito sol, porque fica com a pele toda irritada."
Mais "para baixo", no Jardim Jaraguá, da zona leste, os varais secam tudo rápido. "A roupa seca rapidinho aqui. Quando vou na casa da minha filha e ponho na centrífuga, chega a secar em 20 minutos", contou a dona Guilhermina Jovelina de Souza, de 51 anos. "Aqui dentro é muito quente, mas não posso ligar o ventilador, senão fico rouca." O jeito é encostar na porta e esperar a brisa bater.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.