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No auge do caos, 1 morte levava a 150 homicídios na década de 1990

Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias

Por Bruno Paes Manso
Atualização:

Aos 21 anos, César de Santana Souza sabia que seu tempo estava se esgotando. Em 1999, como ele próprio dizia, estava fazendo "hora extra na terra". Juntamente com os "aliados" José Idelvan dos Santos e João Carlos Queiroz, ele tentava preservar a integridade do grupo de amigos e a hegemonia nos vários tipos de negócios criminais em uma pequena área do Grajaú, na zona sul.

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Depois de cinco anos de conflitos com jovens rivais, ele calculava que já tinha matado mais de 50 pessoas. Narrou pelo menos três chacinas. A primeira morte que praticou foi por vingança de um colega no campinho de futebol. Vários conflitos se sucederam. "Os problemas vão brotando e parece que não acabam mais", explicou.

Em 2006, César e João Carlos foram queimados dentro do carro com outras três pessoas. A polícia apurou que os autores eram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que passaram a vender drogas no bairro. Idelvan morreu no mesmo ano, assassinado na frente do filho de 6 anos.

As periferias da São Paulo dos anos 1990 são o resultado das mortes praticadas por policiais e justiceiros nas décadas anteriores. Em 1999, os assassinatos na cidade alcançariam seu ponto mais alto na curva, com 65 mortes por 100 mil habitantes, semelhante à guerra do Iraque.

Corpos nas ruas, rodinhas em torno dos defuntos, enterros de amigos e parentes, conversas sobre tiroteios e crimes faziam parte da rotina e popularizaram as escolhas homicidas. No leque de alternativas dos moradores dos bairros violentos, o homicídio tornou-se ao mesmo tempo uma ameaça real e uma opção de reação. Foi nos anos 1990 que a engrenagem de homicídios se azeitou e passou a girar com mais força. As mortes dos anos 1980 chegaram como uma bola de neve.

Em 1990, aos 15 anos, Alexandre Rodrigues da Silva iniciou sua trajetória no crime no Jardim Ângela, na zona sul. Ele e os amigos tinham rivais em bairros vizinhos. A maior das rivalidades começou em 1995, contra os Ninjas, moradores do Jardim Tupi.

Segundo apurações da polícia e do Ministério Público, entre 1993 e 1998 as rivalidades entre grupos no Jardim Ângela provocaram 156 mortes, sobretudo de jovens.

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Mudança. A trajetória de Alexandre no crime terminou quando ele foi preso, em 1998. Repensou a vida e hoje está em liberdade provisória. Virou evangélico há quase uma década. Aos 38 anos, trabalha com decoração e é pai de duas meninas. O jovem matador que ele foi nos anos 1990 cresceu em um contexto violento e foi resultado das escolhas erradas que tomou. "Eu, de verdade, sou essa pessoa que você conhece hoje. Em paz", resume.

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