Nas esquinas da capital, a nova música brasileira

Geração que se encontra na Vila Madalena, na Barra Funda e no Baixo Augusta faz a cena musical paulistana se transformar de longe na mais excitante do País

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

Thiago Pethit foi de penetra, assim mesmo, com a maior cara de pau, na festa de Tulipa Ruiz, que conhecia Tiê, que tocava com Tatá Aeroplano, que era parceiro musical de Dudu Tsuda, que conhecia Marcelo Jeneci, que gostava do trabalho de Karina Buhr, que cantou com Lulina, que... Enfim, deu para ter uma ideia. Talvez seriam necessários todos os 4.905 caracteres desta matéria para descrever as conexões, colaborações, coincidências, os encontros e desencontros que estão fazendo a cena musical paulistana se transformar de longe na mais excitante do País."Tem gente que fala em novos paulistas, neo Mutantes, coisa assim, mas acima de qualquer marca está esse espírito colaborativo desse pessoal", diz o cantor e compositor Romulo Fróes, uma espécie de padrinho da turma. Até o segundo semestre do ano que vem, ele e mais três amigos esperam concluir um documentário sobre esse cenário que se concentra entre Barra Funda, Vila Madalena e Rua Augusta, uma espécie de testamento sobre a rede musical que toma ares de movimento em São Paulo. "Claro que há coisas legais acontecendo na zona leste, na zona norte, mas é esse triângulo aí que me interessa, essas amizades que estão virando discos incríveis."Não há um som que una essa geração, uma atitude ou muito menos um rótulo. Há rock, pop, chansons, valsas, folk, cantigas de roda, jazz, tudo muito delicado, contemporâneo, lírico, com preocupação extrema na melodia e nos timbres. Nem todos do grupo são paulistanos, pelo contrário - no fundo, são nomes tão díspares quanto Tiê, cuja voz é doce como um passarinho, ou Guizado, trompetista que poderia muito bem acompanhar tanto Roberto Carlos quanto Ratos do Porão. Mas de festa em festa, contato a contato, show a show, eles montaram uma teia sonora que une músicos, produtores, técnicos, fotógrafos e diretores de videoclipes, uma cadeia completa que apenas fortalece o espírito colaborativo dessa geração.Rótulos. "É inevitável que queiram nos rotular, até para nos decifrar, mas acho que o que nos une é essa troca de figurinhas, esse liquidificador musical", diz a cantora e compositora Tulipa Ruiz, um dos principais nomes da cena, nascida em Santos e criada no interior de Minas. Dona de uma voz potente e ainda assim dulcíssima, que poderia encarar sem nenhuma dificuldade uma ópera ou um sambinha, ela lançou em abril seu primeiro disco, Efêmera, extremamente elogiado pela crítica. De natureza tropicalista e ao mesmo tempo experimental, de citações pop e também retrôs, o álbum serve como um ótimo exemplo do caminho seguido pelos novos músicos de São Paulo - mostrando que a saída para a música pop nacional é ser antiga e atual no mesmo riff de guitarra, no mesmo som de piano, na mesma melancolia de letra que embalaria sambas-canção nos anos 1930 e embalam relacionamentos em 2010."Acho que a cidade se reflete na música pela velocidade da inspiração, pela vanguarda estar aqui", diz ela, que só começou a cantar profissionalmente em 2009. "São Paulo favorece essa troca, um músico vai lá e toca no show do outro, aí outro vai e compõe junto, toca guitarra, ajuda na produção. Não temos uma pretensão estética. O que é legal é o intercâmbio, esse olhar para fora, que é muito característico de São Paulo."Esse recorte de amigos inclusive já aponta para voos mais altos. Com a fama batendo à porta, Tulipa e Tiê chegaram a se unir com os músicos Thiago Pethit, Dudu Tsuda e Tatá Aeroplano para tocar sob o nome de "Novos Paulistas" - uma experiência musical com prazo de validade, uma vez que o coletivo pode fazer uma de suas últimas apresentações no festival Planeta Terra, em 20 de novembro. Ainda assim, é uma prova de que a reunião de colegas e parceiros caminha para uma cena consolidada, um movimento emoldurado por histórias e canções que só poderiam ter saído das ruas de São Paulo.Diversidade. "A cidade obviamente se reflete nas músicas, justamente por ser um retrato da diferentes facetas de São Paulo. As composições não falam de mar, do peixinho e do barco a navegar, até porque eu vou para a praia uma vez por ano", brinca Thiago Pethit, ator de teatro que decidiu virar músico há apenas quatro anos e já coleciona elogios e prêmios como o "Aposta MTV", recebido na última premiação da emissora. Seu primeiro disco, Berlim, Texas, que conta com participações de Tulipa Ruiz e Tatá Aeroplano, é uma pequena pérola - uma mistura de melancolia, melodias ao mesmo tempo grandiosas e delicadas, dores de cotovelo e lembranças da casa da avó. Trata-se de uma viagem pitoresca, um balé em câmera lenta, um passeio um bocado audacioso para quem só entrou na cena musical por ter aparecido de penetra em uma festa."São Paulo não tem uma raiz musical. E isso faz a cidade ter a riqueza de poder contar com a diversidade do mundo", resume Pethit. "O Brasil e o mundo estão em São Paulo e na música daqui. É daí que vem esse lirismo torto paulistano, né."ONDE OUVIR Marcelo Jeneciwww.myspace.com/jeneciDudu Tsudawww.myspace.com/dudutsudaTiêwww.myspace.com/tiemusicaTatá Aeroplanowww.myspace.com/tataeroplanoThiago Pethitwww.myspace.com/lepethitprinceCurumin www.myspace.com/curuminTulipa Ruizwww.myspace.com/tuliparuizFernando Catatau (do grupo Cidadão Instigado)www.myspace.com/cidadaoinstigadoGuizadowww.myspace.com/guizadoKarina Buhrwww.myspace.com/karinabuhrLeo Cavalcantiwww.myspace.com/leocavalcantiMaurício Takara www.myspace.com/mtakaraLuisa Maitawww.myspace.com/luisamaita

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.