'Não tem prova que me incrimine', diz Mizael no júri

Acusado de matar a namorada Mércia Nakashima em maio de 2010, PM reformado afirma que é perseguido por investigadores

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Por William Cardoso
Atualização:

"Não fui eu, excelência." Foi assim que Mizael Bispo de Souza iniciou seu interrogatório às 17h17 de ontem, no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo, no terceiro dia de júri sobre o homicídio de Mércia Nakashima. Só o juiz e a defesa o questionaram sobre a morte de sua namorada em maio de 2010. O promotor Rodrigo Merli Antunes se recusou a fazer perguntas, porque, segundo ele, o réu já havia dado seis versões diferentes sobre o crime."Se chegar alguém naquela porta e disser 'eu matei a Mércia', ninguém vai acreditar. Mas estou com a consciência tranquila", disse o advogado e policial militar aposentado por invalidez. "Não tem nenhuma prova que me incrimine, porque em momento algum estou na cena do crime." O réu disse ser vítima de perseguição por parte do delegado Antonio de Olim, que conduziu as investigações. "Eles não queriam o autor do crime, queriam um culpado." Mizael negou que tenha atrapalhado as investigações. "Contribui tanto que fui sempre que chamado, nunca fui intimado."No primeiro dia de júri, o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo disse que a alga presente em uma lâmina entregue a ele, retirada do sapato de Mizael, é encontrada na represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, onde o corpo de Mércia foi encontrado. Questionado pelos jurados sobre isso, o acusado disse que nunca esteve no local. "Juro pela vida da minha filha."O réu contou também que foi ameaçado de morte por policiais. "Ficaram meia hora me pressionando para dizer que eu tinha matado Mércia." Olim negou anteontem qualquer tipo de ameaça ou tortura ao réu. O ex-namorado de Mércia disse que fugiu porque não via motivo para ser preso. "Quem não deve tem de se rebelar. Foi o que fiz, eu me rebelei."Briga. Mizael também negou que tivesse problemas em relação à divisão de honorários com a namorada, que foi sua sócia. Também disse que não via motivo para desconfiar da fidelidade dela, e que viviam um relacionamento aberto entre setembro de 2009 e a época do crime. Ele contou que o cunhado, Márcio Nakashima, era o grande empecilho a um bom relacionamento com a família. Enquanto Mizael falava aos jurados, a mãe de Mércia, Janete, balançava a cabeça negativamente, em sinal de reprovação.Mizael se dirigiu aos jurados por diversas vezes. Eles fizeram várias perguntas e demonstraram interesse até sobre um anel no seu dedo - referente ao curso de Direito, e não a um relacionamento amoroso. "Faz dois anos que não vejo mulher alguma. Peguei trauma."No fim do interrogatório, 1h50 depois, o juiz Leandro Bittencourt Cano disse que Mizael, como alguém que faz parte do Poder Judiciário, deveria falar a verdade. "Olhando para mim, ou para os jurados, quero que o senhor responda o seguinte. Tudo o que senhor disse é verdade ou mentira?", perguntou o juiz. "É verdade, excelência", respondeu Mizael.O promotor Rodrigo Merli Antunes disse que não quis fazer perguntas a Mizael porque o réu "foi treinado". "Se nós perguntássemos, ele teria uma resposta pronta, muito bem feita e elaborada nos últimos anos."Fim. Hoje começa a fase de debates entre acusação e defesa. Depois, na sala secreta, os conselho de sentença vai decidir se Mizael é culpado.

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