''Não se pode varrer o problema para outra favela''

Nadia Shira Cohen, FOTÓGRAFA AMERICANA

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Por Redação
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As imagens de meninos armados, das inúmeras adolescentes grávidas e a sensualidade do baile funk ficaram na cabeça da fotógrafa americana Nadia Shira Cohen. Atualmente morando em Roma, na Itália, ela avalia que a dificuldade no acesso à educação é o maior drama da Vila Cruzeiro. Como você foi parar na Vila Cruzeiro? Eu estava trabalhando em um projeto que mostra em imagens como policiais e traficantes vêm da favela, do mesmo extrato social e das mesmas condições econômicas. Passei muito tempo fotografando policiais e achei que não entenderia a realidade se não passasse um tempo em uma favela controlada pelo tráfico de drogas. Sabia que seria difícil fotografar, mas queria observar e sentir o ambiente. Fui convidada a ir à favela por alguns moradores que conheci. Uma das famílias, que tinha duas casas na Vila Cruzeiro, mudou para um apartamento minúsculo dividido por dez pessoas por causa da violência. Em comparação com os lugares onde você cobriu guerras e catástrofes, o que achou da situação das favelas brasileiras? Comparar seria generalizar. Comparar o Brasil com o Haiti pode ser interessante, mas nas favelas do Rio a pobreza é relativa, no sentido que as pessoas têm comida suficiente, teto, água corrente e até TV a cabo. De qualquer forma, a carência na educação continua. Isso leva a juventude para o caminho das drogas e da prostituição. O que você achou das Unidades de Polícia Pacificadora? Fotografei em várias favelas pacificadas. O antigo sistema de policiamento das favelas era risível. É difícil saber se isso funcionará no longo prazo, mas os moradores parecem felizes. Ironicamente, documentei policiais que trabalham nas UPPs, mas moram na zona norte, Baixada Fluminense e Niterói, locais que se tornaram perigosos após a pacificação das favelas na zona sul. Acho que não se pode varrer o problema para debaixo da mesa, ou, neste caso, para outra favelaQUEM ÉNADIA SHIRA COHENFOTÓGRAFA DE ASSUNTOS INTERNACIONAISNascida em Boston, em 1977, e morando hoje em Roma, Nadia ganhou a primeira câmera com 15 anos. Sempre se interessou por assuntos internacionais e participou de coberturas jornalísticas no Haiti, na China e no Irã para Vanity Fair, Harper"s Magazine e New York Times.

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