Na Europa, assessor investigado em SP pede demissão por e-mail

Suspeito de enriquecimento ilícito, Tony Nagy deixou o País um dia antes de prisão da quadrilha de fiscais acusada de desviar R$ 500 milhões, segundo secretário municipal do Trabalho

PUBLICIDADE

Por Artur Rodrigues , Bruno Ribeiro , Diego Zanchetta e Fabio Leite - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Investigado pela Controladoria-Geral do Município por suposto enriquecimento ilícito, Tony Nagy, assessor especial da Secretaria Municipal do Trabalho, viajou para a Europa e pediu demissão do cargo por e-mail, segundo o titular da pasta, Eliseu Gabriel (PSB).

PUBLICIDADE

"Ele (Nagy) viajou para a Europa, já levou 14 faltas e vai ser exonerado. Ele mesmo mandou e-mail pedindo para ser exonerado. Primeiro, por causa dessa confusão toda. E também para se defender, se que é que ele tem de se defender de algo, é melhor que esteja fora da secretaria", disse Gabriel.

Segundo o secretário, Nagy viajou para fora do País no dia 29 de outubro, um dia antes da prisão dos quatro auditores fiscais acusados de desviar até R$ 500 milhões da Prefeitura de São Paulo cobrando propina para reduzir impostos. "Ele queria uma licença não remunerada e eu disse que não podia. Falou que era uma viagem longa e foi mesmo assim", afirmou o secretário do Trabalho.

Tony Nagy foi nomeado para o cargo em fevereiro deste ano e não entregou à Prefeitura a declaração patrimonial obrigatória aos servidores da capital. O Estado apurou que ele é suspeito de ter relações com a quadrilha que fraudava impostos e tem uma casa lotérica em Moema, na zona sul, a exemplo de outros auditores suspeitos. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), os fiscais usavam os estebelcimentos para lavar dinheiro fruto da corrupção.

Ao Estado, Eliseu Gabriel disse não acreditar que Nagy tenha relação com a quadrilha. "Não tem a menor possiblidade. O dinheiro dele é dele mesmo. Ele trabalha muito com atividade relacionada a imóveis tombados. Não tem nada a ver com esses caras", disse o secretário.

Gabriel disse também que ficou sabendo nesta quinta-feira, 21, que Nagy não fez a declaração de patrimônio à Prefeitura, mas afirmou que os R$ 140 mil doados pelo assessor na campanha a vereador de 2012 estão dentro da lei. "Ele tem outras atividades, tem outros trabalhos. Se tivesse qualquer coisa errada nessa doação, se ele fosse incompatível, a Justiça Eleitoral teria constatado no primeiro dia. Foi tudo declarado", disse.

Além da lotérica, a família de Nagy tem uma empresa chamada Aprov Projetos e Regularizações de Documentos Ltda., que presta consultoria de outorga onerosa, quando o empreendedor paga a mais à Prefeitura para construir acima do limite legal, e outra com o nome de Nagy Administração de Bens Ltda.

Publicidade

Foi Nagy quem contratou para trabalhar no gabinete de Gabriel na Câmara Municipal a advogada Verônica Horle Barcellos, irmã de Eduardo Horle Barcellos, um dos auditores fiscais presos sob a acusação de desviar até R$ 500 milhões no esquema. Ao MPE, Barcellos disse que pagou R$ 20 mil por mês ao ex-secretário municipal do Governo, Antonio Donato (PT), entre 2011 e 2012. Donato nega, mas pediu demissão do cargo na gestão Fernando Haddad (PT).

Além do valor expressivo da doação eleitoral, a lei define que uma pessoa física pode doar no máximo 10% de sua renda bruta anual, Nagy demonstrava ostentar dinheiro. Ela mora numa cobertura duplex na Vila Leopoldina, zona oeste, e ia trabalhar às vezes com um porsche, às vezes com uma BMW.

"Ele é um cara muito excêntrico. O que ele tem de genialidade, de conhecimento técnico, por outro lado, ele tem essa personalidade", disse Eliseu Gabriel, sobre o assessor com quem trabalha desde 2009. Nagy não foi localizada para comentar o caso.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.