Na Água Branca, denúncia de descaso com animais

Segundo frequentadores, animais do parque na zona oeste não têm alimentação adequada nem cuidados médicos

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Por Marici Capitelli e JORNAL DA TARDE
Atualização:

Gansos, patos, galinhas, tartarugas e outros bichos do Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, não recebem alimentação suficiente e não têm veterinários para tratá-los. A denúncia é de usuários que, por conta própria, alimentam os animais e os encaminham a consultórios particulares.Os maus-tratos aos bichos também já foram denunciados pela Associação Preserva São Paulo e Movimento SOS Parque da Água Branca em reuniões e audiências públicas, a última vez em setembro. A direção do parque nega as acusações e diz que os animais são bem tratados.A advogada Rejane Beatriz Alves Ferreira, de 55 anos, alimenta os animais todos os dias das 6h às 8h30. Ela gasta mensalmente cerca de R$ 1,5 mil só com comida. Há ainda o custo com tratamento veterinário para os animais doentes, que varia de acordo com a espécie e o problema de saúde."Os sacos de milho chegam para a alimentação. Mas desaparecem. Para todos os animais é dada só meia garrafa PET por dia. Se não trouxermos mais, eles ficam famintos", garante Rejane que é voluntária no parque há quase quatro anos. Segundo ela, há três semanas, o parque está sem milho. Rejane afirma que todos os domingos lava o cocho das aves porque os funcionários do parque não o fazem. "Se não lavar, inclusive com a mangueira que trouxe, os animais ficam na sujeira total." Assim que percebeu a situação dos bichos, Rejane, que mora em Higienópolis, passou a cuidar dos animais. Para isso, compra todos os meses 30 quilos de milho, 20 quilos de ração para frango e 40 quilos de quirela. Além disso, toda semana compra verduras e frutas na feira. De uma padaria, ganha diariamente sacos de pão que complementam a alimentação.Rejane já chegou a tirar aves do parque para tratamento veterinário, recuperá-las em casa e só depois devolvê-las. A pata Doralice foi uma delas. Ferida e repleta de parasitas, ficou duas semanas internada.Descaso. A aposentada Clara Kobashi Silva, de 62 anos, também alimenta os animais todos os dias. "Nunca encontrei um funcionário cuidando deles. E se nenhum outro usuário os alimenta, quando chego no fim do dia, estão desesperados." Indignada com a situação de dois pintinhos machucados, ela também os levou a veterinários particulares. "Pedi ajuda aos funcionários, mas eles disseram que o parque não tem veterinários."A filha de Clara alimentou os animais o ano passado, mas acabou desistindo. "A situação precária deles a deixou muito mal e, apesar de tentar, nunca conseguiu ajuda da administração."O zelador Francisco de Assis Silva Almeida, de 36 anos, recolhe todos os dias sobras de arroz de sua casa e dos apartamentos do prédio onde trabalha para levar ao parque. "Fico lá todos os fins de tarde alimentando e procurando os que estão doentes. Nunca vi qualquer animal sendo alimentado ou assistido." Regina de Lima Pires, da Associação Preserva São Paulo e fundadora do Movimento SOS Parque da Água Branca, afirma que não existe interesse do parque em melhorar as condições dos bichos. Ela conta, por exemplo, que na época que antecede o carnaval, as penas dos pavões são arrancadas.Para Regina, a esperança de melhorar a situação está em um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público ao governo estadual. O documento - um acordo que ainda não foi assinado (está em fase de estudo na Procuradoria-Geral do Estado) - contempla o manejo dos animais. O parque passa por uma reforma estimada em R$ 13 milhões.

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