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Na 25 de Março, marcas do incêndio atraem curiosos e silenciam tradicional centro comercial

Chamas em prédio no centro de São Paulo começaram no domingo à noite e causaram a interdição de ruas da área. Comerciantes relatam queda no número de consumidores no entorno

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior
Atualização:

O incêndio que atingiu quatro endereços na região da Rua 25 de Março por mais de 60 horas desde a noite de domingo deixou prejuízos que ainda são difíceis de ser contabilizados pelos comerciantes. O caso atraiu curiosos que queriam ver o trabalho dos bombeiros nas ruas paralelas e ver de perto as marcas que as chamas deixaram no centro da cidade.

Depois de ser interditada na segunda-feira, 11, e funcionar apenas por duas horas na terça-feira, 12, a Rua 25 de Março ainda tem o cheiro da fumaça. O ar que se respira ainda traz o que restou do tecido, papelão e plástico que queimaram por mais 60 horas. Com um quarteirão interditado, sob risco de desabamento do prédio que pegou fogo na rua de trás, a Abdo Schahim, as lojas tentam atrair consumidores, mas o ritmo é lento, sem a lotação tradicional. A lembrança das chamas – e os pedidos dos bombeiros para que as pessoas evitassem o centro – diluíram o formigueiro tradicional.

O trabalho dos bombeirosatraiu pessoas curiosas interessadas em verde perto as marcasdas chamas do incêndio. Foto: Werther Santana/Estadão

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Quem passava por ali também queria ver as marcas que as chamas deixaram. O prédio de seis andares da Rua Basilio Jafet, que ficou com a fachada totalmente escura por causa da fumaça do incêndio, era o local que mais chamava a atenção de quem passava pela região. Muitos paravam para olhar e até tirar fotos, como o eletricista Antonio Pereira Gusmão, de 54 anos. Ele ia mandar para parte da família que mora em Arapoti (PR). “Eles ficaram assustados com a notícia e estavam preocupados comigo. Vou mostrar como a situação foi feia”, diz o morador da região central. 

Outros queriam apenas guardar a lembrança de um momento triste da história da cidade. “A gente fica triste pelas pessoas que trabalham aqui e perderam tudo”, diz a vendedora Claudia Correa, de 25 anos, também registrando a foto no iPhone branco. Havia gente que se perguntava como a Paróquia Ortodoxa Antioquina da Anunciação a Nossa Senhora, na Rua Cavalheiro Basílio Jafet, ainda parece intacta do lado de fora. O estrago foi lá dentro, por trás das portas marrons.

O trabalho dos bombeiros também chamou a atenção– e mais celulares registraram o guindaste que, lá de cima, tentava resfriar a temperatura depois que as chamas haviam sumido. A dona de casa Odete, moradora da região central que fornece só o primeiro nome, tem medo que o prédio caia. “Apagaram o fogo, mas e se o prédio cair?”. A pergunta ficou sem resposta na roda de amigos que olhava para o alto do prédio. Os bombeiros e a Defesa Civil não descartam o risco, por isso os imóveis próximos que podem sofrer danos de um eventual desabamento foram interditados. Ninguém está lá.

Os prejuízos do incêndioainda são difíceis de ser contabilizados pelos comerciantes. Foto: Werther Santana/Estadão

Silêncio

Para quem trabalha ali, o incêndio traz o silêncio. Os donos desses estabelecimentos ainda não conseguem comentar publicamente a tragédia. Os comerciantes começam a calcular os prejuízos, mas acham que ainda é prematuro. A União dos Lojistas da 25 de março e Adjacências (Univinco), que representa 17 ruas de comércio na região central de São Paulo, estima que cerca de 250 lojas e salas comerciais ficaram totalmente destruídas. Só o prédio onde o fogo começou, na Rua Comendador Abdo Schahin, tinha 78 salas comerciais. 

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Quem não teve o negócio diretamente atingido também soma as perdas causadas pelos bloqueios das ruas. Cerca de 80% das 2,5 mil lojas da região ficaram fechadas na segunda-feira ou reabriram parte do período na terça-feira como medida de precaução da Prefeitura de São Paulo. Pedro Campos, gerente de uma loja de brinquedos, calcula que o movimento caiu 90% nesta semana. Além disso, tem de somar as dificuldades por falta de água e luz. É o mesmo cenário da Vandir Botões, que abriu apenas meia porta para os proprietários começarem a planejar o retorno.

O empresário João Perricci, proprietário da LDI Cristais, loja de artigos de festas e decoração que vende para o restante do País e o exterior, já tem um número na cabeça. Ele estima em R$ 100 mil o prejuízo diário com custos fixos (aluguel, conta de água e luz) e a queda de faturamento. Ele ocupa dois endereços da Rua Abdo Schahim que não foram afetados pelo incêndio por pouco. Ele está nos números 144 e 166 – o foco do incêndio foi no número 78. Agora, fica o medo do desabamento dos prédios vizinhos. “Só vamos voltar quando não houver risco algum”, determina o empresário de 60 anos. 

Cerca de 250 lojas e salas comerciais ficaram totalmente destruídas, segundo aUnião dos Lojistas da 25 de março e Adjacências (Univinco). Foto: Werther Santana/Estadão
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