É o começo do processo. Queremos devolver o espaço para a comunidade, com atividades, oficinas e exposições. Agora estamos mais perto de tudo isso
Diego Rodrigues Vieira, Diretor do espaço
Material da vizinhança.
Baseado na experiência de um dos primeiros museólogos brasileiros, Júlio Abe Wakahara, responsável pelo chamado Museu de Rua (exposições em espaços públicos que contavam a história dos bairros e seus moradores), Armandinho também começou a coletar “material” dos vizinhos e amigos. “Armandinho dizia que quando alguém morria no Bexiga os parentes costumavam jogar tudo fora. A ideia dele era recuperar a memória perdida do bairro”, diz a presidente da associação Museu Memória do Bexiga, Vera Rodrigues. Mas, como o casarão estava ocupado de forma irregular, começaram os problemas. No início dos anos 90, no governo Fernando Collor de Mello, a União tentou reaver o imóvel. E ele só não foi perdido graças a habilidade política de Armandinho. Na época, o idealizador do museu descobriu que a mãe da então toda poderosa ministra Zélia Cardoso de Mello, Auzélia Martoni Cardoso de Mello, tinha descendência italiana. “Armandinho bolou uma homenagem para a mãe da Zélia. Foi uma ideia genial. A própria ministra compareceu e se divertiu muito”, afirma Santiago. Pode ser coincidência, mas após a visita e a homenagem, não se falou mais em o museu deixar o casarão.
O processo para devolver o prédio ficou adormecido até o governo Fernando Henrique Cardoso - quando o imóvel passaria para a Polícia Federal. “Queriam que aqui fosse a sede da Interpol. Pode uma coisa dessas?”, brinca Augustinis. Tudo parecia rumar para um final feliz. Mas, em 1994, Armandinho morreu de câncer no pâncreas. O museu ficou abandonado, os problemas financeiros se acumularam e o casarão foi, mais uma vez, invadido. Só a partir de 2015, a associação reassumiu o lugar e, aos poucos, com eventos esporádicos, amadureceu a ideia de uma reabertura. Hoje, o grupo que administra o museu tem a posse provisória do casarão e os trâmites para aquisição definitiva estão em andamento. Para Vieira, o que está ocorrendo agora é só o começo.