17 de outubro de 2010 | 01h00
O público que visitar o Museu Paulista, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, vai poder acompanhar ao vivo ainda neste ano a restauração da tela A Conversão de São Paulo a Caminho de Damasco, do pintor Almeida Júnior, que ficava no teto da antiga Igreja da Sé, demolida há quase cem anos.
A pintura, concluída em 1889, foi levada para o museu em 1912, quando a igreja e algumas construções do entorno foram demolidas para dar lugar à atual Praça da Sé. A obra chegou a ser exposta, mas já estava guardada havia 15 anos. Por uma porta de vidro, os visitantes vão poder ver o trabalho da equipe de restauradores, que deve durar 11 meses e só aguarda agora aprovação da Universidade de São Paulo (USP).
Do lado de fora, na antessala, um painel será atualizado com fotos e explicações de cada fase de restauração. Nesse espaço, a partir do dia 16 do próximo mês, haverá também uma exposição sobre a pintura, a igreja que a abrigava e o processo de demolição. "Será uma exposição que informa e contextualiza", diz a curadora, Heloisa Barbuy.
A mostra vai reunir imagens como a reprodução de uma foto de Aurélio Becherini, tirada em 1910 no interior da antiga construção, que destaca a pintura no teto. Também serão exibidas fotos da demolição, alguns fragmentos originais, cartões-postais que retratam as etapas de construção da atual Catedral da Sé e imagens da Praça da Sé entre 1940 e 1970.
Um dos fragmentos que será exposto no próximo mês é o antigo marco da Praça da Sé, retirado quando o templo foi demolido. Conforme a restauradora do museu, Yara Petrella, esse tipo de trabalho desperta curiosidade - e por isso se decidiu aproveitar o momento como processo educativo. "O museu tem essa função. As pessoas vão poder ver que um trabalho de restauração não começa de repente. Há uma preparação longa e difícil."
Restauro. Os documentos do acervo do museu registram que a pintura de Almeida Júnior que será restaurada chegou muito danificada e já passou por outras intervenções. "Era comum os pintores restaurarem telas, achando que a tecnologia resolveria os danos. Na verdade, eles não restauravam, pintavam em cima. Essas restaurações antigas são consideradas inadequadas hoje", explica Yara.
Por causa do tamanho - 4,5 por 3,7 metros -, a tela não passa em nenhuma porta do museu. Para levá-la ao local do restauro, foi preciso reunir várias pessoas para retirá-la da moldura e enrolá-la num tubo de papelão.
Durante a preparação para o restauro, que já dura dois meses, a obra foi fotografada quadro a quadro. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio (UFRJ) convidados pela equipe do museu fizeram um raio X computadorizado e um processo de fluorescência, para analisar as condições da pintura e identificar materiais e pigmentos. "A tela é dividida em várias partes e está com vincos nas emendas, o suporte original tem fissuras, rompimentos", detalha Yara, que vai coordenar uma equipe de três profissionais de uma empresa contratada apenas para auxiliar na restauração.
"O objetivo é chegar o mais próximo possível da pintura original, livre de intervenções, para que a obra seja apreciada sem ruído. Mas temos de estabelecer limites e evitar mais danos", diz Yara. "A própria obra vai nos informando o limite, conforme o trabalho se desenvolve."
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