Muro da CPTM isola famílias dentro de casa

Companhia diz que precisa impedir acesso aos trilhos em estação de trem

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Por Bruno Ribeiro
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Na quinta-feira, a vendedora Jandira de Jesus Oliveira, de 40 anos, recebeu um telefonema do colégio de sua filha, de 7. "Disseram que se ela não voltasse à escola, iria perder o ano", conta a mãe. Era o 44.º dia seguido de falta da menina e mais um capítulo do drama que elas vivem há dois meses. A casa da família Oliveira foi cercada com muros de 3 metros de altura pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) durante uma obra para impedir o acesso de pedestres aos trilhos. Desde então, a família está presa em casa.No terreno, 18 pessoas vivem em cinco casas de alvenaria. O local fica ao lado da Estação Quitaúna, da Linha 8-Diamante, em Osasco. A família está lá há 36 anos. "Minha mãe foi a primeira a vir", diz Jandira. As casas têm luz regularizada, telefone e internet. O Ministério Público Estadual move ação para garantir o direito dessas pessoas de sair de casa. Seis dos moradores são crianças.O endereço oficial é Praça Antonio Raposo Tavares, 30. Mas a casa fica, na verdade, entre a linha do trem e o Rio Tietê - e a saída para a cidade sempre foi cruzando os trilhos. Lá, quem quer sair de casa tem duas opções. Ou escala o muro e foge dos guardas da companhia, que têm ordens de impedir o acesso de qualquer um aos trilhos, ou percorre 1 km entre mato e esgoto até um túnel que dá acesso à Avenida dos Autonomistas, invadindo o terreno do vizinho. "Tem rato, esgoto, é um horror", diz Jandira.O programa para impedir o acesso aos trilhos da CPTM começou no ano passado. Em alguns locais, como ao lado da Estação Itapevi, a empresa construiu passarelas. Na casa dos Oliveira, só fez o muro. Outra moradora, Edileusa Freire de Freitas, de 31 anos, tem dois filhos, de 11 e 9 anos. Os garotos se arriscam no muro, apesar do medo da mãe. Por isso, perderam menos aulas. A CPTM disse, em nota, que "trabalha em conjunto com a família para encontrar uma solução para o caso" e que "está ajudando a viabilizar a abertura de uma passagem pelo quartel do Exército existente no local, sem colocar em risco a segurança ferroviária". O quartel é vizinho do terreno e também fica atrás da estação. Lá há uma passagem de nível para pedestres.A nota da CPTM, que não dá prazos para encontrar uma solução nem explica por que não foi feita passarela para a família, diz ainda que "a obrigação da companhia é sempre garantir a vedação completa de sua faixa ferroviária, evitando o acesso indevido aos trilhos e possíveis acidentes". O Ministério Público Estadual obteve em agosto uma decisão liminar que obrigava a construção de uma saída para os moradores. Mas um recurso da CPTM derrubou a liminar e, agora, uma audiência deve decidir o impasse - apesar de o MP ter pedido que a decisão fosse reconsiderada pelo Tribunal de Justiça."É menos perigoso eles continuarem cruzando os trilhos do que manter essa situação", afirmou o promotor Fábio Garcêz. "A família usava essa passagem há muito tempo e até hoje não houve acidentes. O caminho alternativo ficou inviável."

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