Mulher retira queixa por vergonha e pena

Auxiliadora foi agredida pelo marido e pelo filho; com cicatrizes por todo o corpo, perdoou

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Por valéria França
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Na semana passada, a pernambucana Maria Auxiliadora Feitosa, de 51 anos, pegou o ônibus no Belenzinho, zona leste da capital paulista, e desceu na frente do Fórum da Barra Funda, zona oeste. Lá, pediu para falar no Juizado Especial da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. "Quero retirar a queixa." Antes de ser recebida pela juíza, foi encaminhada à psicóloga da Defensoria Pública. A preocupação era saber se ela estava sendo coagida. Há um ano e meio, Auxiliadora, como prefere ser chamada, foi agredida pelo marido e pelo filho. "Eles me deram tanto soco que fiquei uma semana no hospital", comenta a dona de casa. "Estou sem emprego e não levo dinheiro para casa. Meu marido fica nervoso com isso. Até hoje não consigo estender meu braço esquerdo."Histórico. Essa não foi a primeira surra. Auxiliadora tem riscos de faca na coxa, cicatrizes de unhadas nos pulsos e manchas por todo o corpo. Já abriu seis processos e desistiu de todos.Em um misto de vergonha e pena de entregar o filho à Justiça, Auxiliadora decidiu parar o processo quando o viu abrindo a intimação em casa - um pequeno barraco em uma favela do Belenzinho. "Ele disse que confirmaria na frente do juiz que tinha mesmo batido em mim."O marido, segundo ela, anda calmo. Baixinho e bem mais magro que a mulher, é do tipo que dá ordens até para estranhos. A vizinhança diz que Auxiliadora não costuma sair na rua. "Ele me bate há 30 anos", confessa. "Mas eu tenho pena. Depois ele chora." E a senhora não tem pena de si mesma? "Boa pergunta. Nunca pensei nisso."

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