12 de dezembro de 2014 | 03h00
O anúncio do engenheiro Benedito Braga no comando da Secretaria de Recursos Hídricos indica que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu tirar do papel em 2015 a proposta de multa para os consumidores que continuarem gastando mais água hoje do que antes da crise, apesar do agravamento da seca. Foram 24% em novembro. Impopular, a medida chegou a ser anunciada pelo titular da pasta, Mauro Arce, mas foi descartada pelo governo durante a eleição.
Professor da USP e presidente do Conselho Mundial da Água, Braga sempre defendeu publicamente o controle da demanda por meio de taxas progressivas para quem consome mais em vez de restringir a oferta, ou seja, adotar o racionamento. “Só apertando no bolso é que as pessoas vão dar mais valor à água”, disse em abril. O problema é que entidades de defesa do consumidor afirmam que a legislação condiciona a multa à decretação de rodízio oficial, interpretação que o governo contesta.
Respeitado mundialmente, Braga é a pessoa mais indicada para legitimar a mudança de curso protelada até o momento. Mudança, contudo, limitada, segundo ambientalistas que acompanharam suas declarações ontem. Ao dizer que não pretende “inventar nada”, mas aplicar o que já está planejado, ele sinaliza com novas obras bilionárias para buscar água cada vez mais longe. Com ele, a campanha de economia de água da Sabesp deve ser intensificada e a relação com a Agência Nacional de Águas (ANA) tende a melhorar.
Já Mauro Arce deve voltar ao setor energético, continuando com papel fundamental na engenharia da transposição de água da Bacia do Rio Paraíba do Sul, usado para abastecimento e geração de energia, para o Cantareira. A obra mais urgente do novo mandato.
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