Ministério Público apura violação do túmulo de Monteiro Lobato

Jardineiro encontrou caixa de cinzas do escritor perto de banheiro no Cemitério da Consolação; Prefeitura de São Paulo vê equívoco em informação

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Por Felipe Resk e Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Gastos. Verba para manter cemitérios, como o do Araçá, sofreu corte de 42% neste ano Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual abriu inquérito para investigar denúncias de má administração no Cemitério da Consolação, no centro, entre elas a profanação dos restos mortais de Monteiro Lobato, neste ano. Segundo as denúncias, as cinzas do escritor foram encontradas do lado de fora do túmulo, que havia sido violado por criminosos.

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O promotor Nelson Luís Sampaio de Andrade, do Patrimônio Público e Social da Capital, iniciou as investigações após denúncias do Movimento de Defesa do Cemitério da Consolação (MDCC) e do vereador Nelo Rodolfo (PMDB). O inquérito foi instaurado na terça-feira, 16.

À promotoria, foi relatado que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) encontrou um “saco de cinzas jogado em uma viela” do cemitério. Depois, foi constatado que eram os restos mortais de Monteiro Lobato.

“Em anos anteriores, roubaram a guirlanda e o portão de bronze do túmulo. Agora, profanaram o túmulo, remexeram na gaveta e levaram a caixa com as cinzas dele”, afirma Francisco Machado, diretor do MDCC e autor da denúncia. “Os meliantes não encontraram nenhum objeto de valor e abandonaram a caixa”, diz.

Foi um jardineiro autônomo, contratado por várias famílias para cuidar de túmulos, quem disse ter achado os restos mortais do escritor, há cerca de três meses. “A caixinha estava na porta do banheiro onde os coveiros se trocam. Na caixinha estava gravado ‘Monteiro Lobato’”, afirma ele, que pediu para não ser identificado.

Segundo conta, os restos mortais foram recolhidos, então, pela GCM e não houve registro de boletim de ocorrência na sequência. “Devem ter pensado que era uma caixinha com joia, porque já houve outros casos assim”, diz. O caso, relata, ocorreu por volta das 11 horas. 

Investigação. O MPE também vai investigar denúncias de “constantes furtos de portas de bronze, casos de elevado valor artístico, bem como outros objetos externos dos túmulos”. “Começou com pequenos furtos, depois foram as grades de bronze. Hoje, estão roubando até estátua de 300 quilos”, diz o diretor do MDCC. De acordo com os denunciantes, mesmo registrando BOs, “nenhuma providência” foi tomada pela administração do cemitério. O inquérito também aborda suposta má administração do crematório da Vila Alpina e de outros cemitérios.

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Em nota, a Prefeitura destacou que não há “absolutamente nenhum relato” da GCM sobre os restos mortais de Monteiro Lobato e que a informação dada pelos denunciantes é “equivocada”. Destacou também que o cemitério tem patrulhamento 24 horas e que há duas câmeras em funcionamento no entorno da necrópole. Sobre o inquérito do MP, o governo municipal destacou que ainda não foi notificado e que o recebimento da denúncia “não corresponde à comprovação dos fatos mencionados”.

‘Detalhes’. A superintendente do Serviço Funerário, Lúcia Salles, afirmou em entrevista à Rádio Estadão que a GCM faz patrulha 24 horas por dia no Consolação para evitar furtos. “Ninguém chupa ou come bronze. O que precisa é uma ação da Polícia Civil contra receptação do bronze.”

Reportagem do Estado publicada nesta quarta-feira, 17, revelou que o governo municipal cortou praticamente metade dos gastos com manutenção e limpeza dos cemitérios – a redução foi de R$ 25,7 milhões, em 2015, para 14,8 milhões neste ano. Questionada, Lúcia negou que a redução tenha causado impacto na limpeza dos cemitérios que, segundo ela, “são parques belíssimos”.

Em resposta aos problemas encontrados pela reportagem nos cemitérios da Consolação, Araçá, São Paulo e Vila Alpina, a superintendente disse que se tratavam de detalhes. “O que infelizmente andam fazendo é, em vez de mostrar essa coisa lindíssima, fecham a câmera naquele ponto da sala que não está bom.”

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