Morre Maschio, agitador do Pirandello

Ele ajudou a criar um dos pontos de encontro mais efervescentes de SP nos anos 1980

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Por Edison Veiga
Atualização:

Nunca mais haverá um bar como o Spazio Pirandello, que durante a década de 1980 foi ponto de encontro de artistas, políticos, intelectuais de todo o tipo e anônimos na Rua Augusta. Nunca mais haverá Antonio Maschio, que morreu nessa segunda-feira, 21, aos 66 anos, de câncer no pâncreas, em São Paulo. O ator, produtor e agitador cultural nasceu em 1947, em São José do Rio Preto, e mudou-se para São Paulo um dia depois dos festejos do 4.º Centenário, em 1954. "Apaixonei-me e me casei com esta cidade", comentava. "Ele era um grande criador. Tinha na cabeça uma usina fértil. Pensava coisas que ninguém conseguia realizar; eu sempre gostei de fazer coisas impossíveis: por isso nossa dupla deu certo", afirma Wladimir Soares, maior parceiro de Maschio e co-inventor dessa aventura chamada Pirandello. Misto de bar e restaurante, o endereço foi um efervescente ponto de encontro dos anos 80. Por ali eram vistos o então senador Fernando Henrique Cardoso, o escritor Ignácio de Loyola Brandão e o ator Paulo Autran, entre outros."Eu ia todos as noites, e costumava me sentar à mesma mesa", afirma Loyola. "Certa vez, o Maschio ficou a noite inteira jantando com uma senhora, que ninguém tinha a menor ideia de quem era. Quando ela se foi, os habitués foram criticá-lo: quem é essa com quem você jantou e não apresentou para ninguém? E ele, com aquele jeitão debochado, disse: é a Lina Wertmüller (cineasta italiana)", conta o jornalista Dirceu Rodrigues, que foi gerente do bar por quase dois anos. A casa foi palco de diversos eventos: lançamentos de livros, exposições e a "calçada da glória", onde personalidades estampavam suas mãos - em 1980, a escritora Lygia Fagundes Telles foi a homenageada. Outra aventura cultural foi o livro Contos Pirandellianos: Sete Autores à Procura de um Bar, uma brincadeira com o Pirandello "original" - o dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) é autor da peça Seis Personagens à Procura de um Autor - com contos de Mario Prata, Caio Fernando Abreu e Ignácio de Loyola Brandão, entre outros ilustres frequentadores-escritores. Maschio e Soares estiveram à frente do Pirandello de 7 de janeiro de 1980 a 31 de dezembro de 1989. "Com a aids, muitos de nossos clientes foram morrendo. E demos uma baqueada. Parecia que todo aquele ideal libertário tinha sido freado", afirma Soares que, em 2007, contou as memórias do bar no livro Spazio Pirandello - Assim Era, Se Lhe Parece. Nos anos 1990 e 2000, Maschio ocupou cargos culturais - foi diretor de atividades culturais da Fundação Memorial da América Latina e assessor especial da Secretaria da Cultura do Estado. Seu corpo foi velado ontem no Cemitério do Araçá e depois cremado.

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