
24 de setembro de 2010 | 00h00
"Nem todo mundo que está numa moto é bandido", desabafou ontem Maria Lucineia Bento, mãe de Leandro Bento do Amaral, de 17 anos. Ele acabara de receber dos médicos a confirmação da morte do único filho, baleado por uma policial militar no dia anterior em uma festa, na zona sul de São Paulo.
A soldado Simone Silva de Oliveira, de 36 anos, diz ter disparado acidentalmente. Para amigos do jovem, ela atirou para matar.
Na tarde de quarta-feira, Leandro e o amigo Wellington Coelho foram de moto a uma festa no Jardim Imbé. Dezenas de jovens ouviam música e bebiam no fim da Rua Ludovice, que tem uma escada de acesso à Estrada do M"Boi Mirim. Comemorava-se o aniversário de 15 anos de uma amiga de Leandro. Ambos estudavam na escola estadual no outro lado da estrada.
O som alto partia de um carro estacionado com as portas abertas. Incomodados, moradores chamaram a Polícia Militar. Pouco depois, chegaram Simone e outro soldado, da 1.ª Companhia do 37.º Batalhão.
Daí em diante, Simone conta uma versão e os amigos de Leandro, outra. A policial disse que os jovens fechavam a estrada. Ao se aproximar, eles a cercaram e tentaram tomar sua pistola. Ao se defender, a arma disparou. Mas amigos do estudante relatam que a PM mirou e atirou nos amigos na moto. "Ela não mandou eles pararem. Se tivesse, o Wellington pararia", contou Lucas Santana Leite, de 17 anos.
O disparo acertou Leandro acima da sobrancelha esquerda e saiu pela nuca. Às 12h50 de ontem, médicos do Hospital do M"Boi Mirim confirmaram a morte do estudante. Simone foi levada para o Presídio Militar Romão Gomes. Em nota, o Comando da PM informou que vai apurar o caso. "Vamos investigar se houve exagero", disse o delegado Carlos Alberto Delaye Carvalho, da Polícia Civil.
A mãe de Leandro aceitou doar a córnea direita, o coração, pulmão, os rins, o pâncreas e fígado. "O médico falou que ele pode salvar até sete vidas."
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Wellington Coelho, AMIGO DE LEANDRO
1. Como vocês decidiram ir à festa?
O Leandro me convidou. Quando chegamos, tinha uma multidão. Dali a pouco veio a viatura. Falei para o Leandro: "Vamos embora". Peguei o capacete e já montei na moto. Estava saindo e só escutei o "pipoco". Segurei Leandro com o braço, para ele não cair, e ele já não estava mais conseguindo falar.
2. Por que decidiu deixar a festa quando viu a polícia?
Queria ir embora, só.
3. A policial havia falado algo com vocês?
Não, nada. Ela saiu do carro, mirou e, na hora que virei as costas, ela deu o tiro. Ela teve intenção. Se não tivesse, atirava na roda, mandava parar. Houve despreparo da policial.
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