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Moradores vivem rotina sem medo em Matão, a cidade mais segura de São Paulo

Cercada de indústrias e fazendas de cana, Matão é a cidade com mais de 50 mil habitantes mais segura do Estado, segundo o Índice de Exposição à Criminalidade Violenta, do Instituto Sou da Paz

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

Basta não estar chovendo para que a dona de casa Maria Helena Santos Andrade, de 41 anos, repita uma indispensável rotina: após o almoço, ela se dirige a um dos bancos instalados na calçada, à frente da casa, para a costumeira roda de conversa com os vizinhos. “É sagrado, a gente almoça perto do meio-dia, faz os afazeres e vai para a rua aqui na frente, onde os vizinhos também já estão chegando. Ficamos horas conversando, sem medo de nada”, contou. A rotina, típica de minúsculas localidades do interior, acontece em Matão, cidade de 83.170 habitantes, na região norte do Estado de São Paulo.

Cercada de indústrias e fazendas de cana, Matão é a cidade com mais de 50 mil habitantes mais segura do Estado, segundo o Índice de Exposição à Criminalidade Violenta (IECV), do Instituto Sou da Paz. A análise envolve 139 municípios paulistas. Os dados levam em conta a redução de indicadores de crimes violentos, como roubos, estupros e homicídios, no primeiro semestre deste ano.

A cidade de Matão, no interior de São Paulo,foi a menos exposta à criminalidade violenta no primeiro semestre deste ano, de acordo com o Índice de Exposição à Criminalidade Violenta (IECV), doInstituto Sou da Paz Foto: Prefeitura de Matão / Divulgação

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O prefeito Edinardo Esquetini (PSB) acredita que a pandemia do coronavírus teve influência. “Para fazer com que os decretos de quarentena fossem cumpridos, realizamos muitas operações com participação da Guarda Municipal e da Polícia Militar”, disse.

Os dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado de janeiro a junho deste ano, comparando com igual período do ano passado, mostram que os principais índices de violência já eram baixos e caíram mais. Não aconteceu nenhum homicídio ou latrocínio nos dois períodos. O total de roubos caiu de 54 para 22 e o de furtos, de 286 para 207. Nos primeiros seis meses do ano passado, houve seis roubos a banco. Este ano, nenhum. O número de estupros baixou de 12 para 3 e o de lesões corporais dolosas, de 146 para 80.

Houve queda nos furtos de veículos, de 44 para 37, mas o número de roubos de carros disparou, de 6 para 23. Também aumentaram as tentativas de homicídio, de zero para duas. Os números da criminalidade em Matão são bem menores que de cidades do mesmo porte.

Cruzeiro, com 82.238 habitantes, que ficou em quarto lugar no ranking de exposição à criminalidade, registrou no primeiro semestre 14 homicídios dolosos, 21 tentativas de homicídio, 10 estupros, 95 roubos, 317 furtos, 47 furtos e 10 roubos de veículos e 113 lesões corporais dolosas.

Os crimes de morte são tão raros que os moradores precisam puxar pela memória. O frentista Laércio Mendes, que trabalha em um posto na Avenida Baldan, lembra do assassinato de um policial militar, no início de 2018. 

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Ação de quadrilha de roubos de carro

O tenente Luiz Augusto Alves Tavares, comandante do policiamento militar em Matão, disse que o aumento em furtos e roubos de veículos se deve à ação de adolescentes infratores. “Mapeamos a ação de uma quadrilha que age na região e usa menores de idade para roubar carros ou caminhonetes em Matão e entregar a receptadores”, explicou. Os grupos de vizinhança solidária ajudam a ação da polícia. “Os moradores reportam atividades suspeitas e usamos imagens de câmeras do comércio para chegar a possíveis criminosos.”

O prefeito acredita que investimentos na Guarda Civil Municipal ajudaram a manter os baixos índices de violência. “Além de comprar viaturas e equipamentos – vale dizer que eles não tinham nem coturnos – fizemos a capacitação dos 32 guardas e contratamos mais 25. Da forma como foram treinados em academia de Campinas, eles podem se dar ao luxo de não usar armas”, disse. Conforme Esquetini, A prefeitura assumiu a manutenção das viaturas policiais e empresta funcionários para a Polícia Civil.

Mas o prefeito acha que o investimento que mais deu resultado foram as escolinhas de esportes que atendem 1.500 crianças. “Trouxemos toda criançada e a juventude para aulas de natação, judô, futebol, karatê e outras práticas. Nosso pessoal da capoeira faz um trabalho fantástico no Jardim Paraíso, uma região crítica.” Segundo ele, está sendo estudada a instalação de sistemas de monitoramento, do tipo muralha eletrônica, para reduzir os roubos de veículo. “Temos a terceira renda per capita do estado. Muita gente tem carro bom e caminhonete, por isso as quadrilhas da região vêm ‘trabalhar’ aqui.”

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Na sexta-feira, 7, a cidade completou 14 dias na fase amarela do Plano São Paulo e bares e restaurantes foram autorizados a abrir até a 22 horas a partir do dia 10. Até então, o atendimento se encerrava às 17 horas. A cidade tem 183 casos positivos de coronavírus e 246 em investigação, além de oito óbitos confirmados. Mas o prefeito diz não ver risco de aumento nos índice de criminalidade. “Moro aqui desde os seis anos, há 46 anos, e nunca tive problema de roubo ou assalto, graças a Deus. A cidade é abençoada.”

Esse tipo de violência também passou longe da família de Maria Helena. Ela mora com o marido, o enteado e a nora em uma casa térrea da rua José de Oliveira, no Jardim Balista, entre o centro e a rodovia Brigadeiro Faria Lima (SP-326). Sua mãe mora ao lado. “

"Nunca houve um episódio de roubo ou assalto, nem aqui, nem na vizinhança, por isso nunca nos preocupamos em ter câmeras, cerca elétrica, essas coisas. Aqui no bairro todos se conhecem, ninguém usa ferrolho na porta. Se alguém está em busca de sossego, eu recomendo o Jardim Balista em Matão”, disse. 

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