Moradores viram fiscais do Itaquerão

Entidades da zona leste prometem ficar de olho no dinheiro público que será investido no estádio e cobram obras para além da Copa

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Por Marici Capitelli
Atualização:

O distrito de Itaquera, na zona leste de São Paulo, será o foco de investimentos do poder público para a Copa do Mundo na capital paulista. E a região terá fiscais para acompanhar tudo o que está sendo feito: moradores que integram a União das Entidades em Defesa de Itaquera. A região receberá R$ 478 milhões do Estado e Prefeitura para obras. O estádio, que vai custar cerca de R$ 820 milhões (metade com dinheiro público) terá cinco ou seis jogos do mundial que ainda serão definidos.A União das Entidades em Defesa de Itaquera congrega 20 entidades como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaquera (CDLI), Fórum de Desenvolvimento da Zona Leste, além de profissionais liberais e outros moradores.Para a jornalista Lídia Paniaga, vice-presidente da Associação Corinthians-Itaquera Comunidade e Família, o objetivo é não só acompanhar as obras públicas, como fiscalizar para que as ações governamentais não sejam apenas maquiagem em uma região que precisa de desenvolvimento efetivo."Vamos ficar atentos e articulados, porque não podemos permitir que sejam feitas ações só para maquiar a região, nos usem como vitrines e, depois da Copa, desmontem tudo e vão embora como se fosse um circo sem qualquer benefício efetivo para a região", afirma a vice-presidente da associação. "A população tem de ser o foco desses projetos." O grupo já entregou ao ministro do Esporte, Orlando Silva, a proposta de um centro olímpico para funcionar nas imediações do estádio. As lideranças acreditam que essa é uma obra que beneficiará os jovens com a prática esportiva. No papel. Com cerca de 600 mil habitantes distribuídos em 72 bairros, Itaquera tem, segundo as lideranças regionais, excesso de projetos que não se concretizam. Os moradores argumentam que algumas das obras atualmente previstas são projetos engavetados há anos."Hoje Itaquera está no foco do mundo. Temos de aproveitar para sermos ouvidos pelo poder público, porque atualmente não somos. Estamos esquecidos", ressalta o advogado Roberto Manna, presidente da comissão de lojistas do distrito.A Secretaria Especial de Articulação para a Copa do Mundo de 2014, da Prefeitura de São Paulo, informou que os movimentos sociais, as lideranças e as pastorais têm participado do processo de discussão. Segundo a pasta, algumas reuniões e fóruns foram feitos para que todos sejam ouvidos e esse sistema será mantido durante todo o processo das obras.Primeira ação. Frutos dessa articulação, as lideranças vão ao Ministério Público amanhã pedir que o órgão apure irregularidades nas obras de revitalização do centro de Itaquera. Embora não conste do conjunto de melhorias propostas pelo Estado e a Prefeitura, esse é um empreendimento que os moradores consideram essencial para o bairro.A união das entidades afirma que a revitalização se arrasta desde 2006 e sofreu alterações que descaracterizaram a proposta inicial. Entre essas mudanças está a extinção da Casa de Cultura. Esse espaço funcionaria dentro de uma casa de 1875 que pertenceu ao chefe da estação ferroviária. A ideia original era restaurar o espaço. "A informação que temos é que o espaço vai ser ocupado pela Polícia Militar. É uma memória que vai acabar sendo destruída", alerta o arquiteto Fernando Luís Simas, um dos participantes da união das entidades de Itaquera.Outra reclamação é que o projeto previa um complexo de gastronomia, com comida típica tanto dos migrantes nordestinos como das comunidades portuguesa, árabe, japonesa e italiana da região. Entretanto, esse item também foi retirado.O arquiteto responsável pelo projeto, Luiz Cutait, vai acionar a construtora pelas alterações. "Isso é obra pública e não pode ser tratada dessa maneira." A Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) foi procurada pela reportagem para comentar as alterações no projeto, mas não respondeu.

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