Moradores de SP relatam falta de água; Sabesp admite reduzir pressão de tubulações mais cedo

Diminuição da vazão agora ocorre das 21 às 5 horas; em casas sem caixa d’água, locais mais altos e distantes, a medida dificulta a rotina

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Por Mariana Hallal
Atualização:

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ampliou o horário de redução da pressão da água na região metropolitana de São Paulo. A diminuição da vazão de água, que antes começava às 23 horas, agora é feita a partir das 21 horas. Às 5 horas, o fornecimento é normalizado. Em casas sem caixa d'água, especialmente em locais mais altos e distantes, a redução acaba se transformando em interrupção do abastecimento de água.

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O superintendente da Metropolitana Centro da Sabesp, Roberval Tavares de Souza, diz que a prática de reduzir a pressão da água é praticada desde 1996. Segundo Souza, a Sabesp passou a reduzir a pressão mais cedo e por mais tempo para “preservar os sistemas de abastecimento de água”, por causa da escassez hídrica.

O Brasil enfrenta uma forte crise hídrica que está tendo reflexos no abastecimento de energia. Apesar disso, Souza afirma que não há riscos de faltar água potável no Estado de São Paulo este ano. “Temos água acumulada de maneira satisfatória para todo o período”, diz. Segundo o superintendente, o nível das represas está em 39%, o que é considerado normal para a época.

Ele também nega que a Sabesp esteja racionando água e menciona um estudo feito pela empresa que mostra que reduzir a pressão a partir das 21 horas não prejudicaria o consumidor. No entanto, não é isso que está sendo visto em diferentes bairros da cidade de São Paulo.

Laryssa da Silva muda rotinas para cuidar de dois filhos, comida e limpeza sem água Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Laryssa da Silva, moradora de Paraisópolis, diz sofrer com a falta de água durante a noite há muito tempo. Nos últimos dias, o problema piorou porque começa mais cedo. “A partir das 21h30 a água reduz a um ponto que não dá mais para tomar banho porque pode queimar o chuveiro. Às 22 horas, já não tem água nenhuma”, conta.

Ela costuma estocar água em baldes e garrafas durante o dia para alguma emergência, mas tem vezes que a água corrente é indispensável. Nesta segunda-feira, por exemplo, sua filha Lorena, de 3 anos, estava com febre alta à noite e não havia água na casa para que Laryssa pudesse dar banho frio na menina. “Precisei ir para a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) porque a febre não baixava. Lá, a primeira coisa que mandaram eu fazer foi dar banho nela”, diz.

Graziele Santos, que também mora em Paraisópolis, relata que sofre com o mesmo problema há anos. “Só piora. Agora eles desligam a água às 20 horas e o trabalhador que chega em casa às 21 horas não pode tomar um banho”, reclama. Ela fala que antes a interrupção no abastecimento começava só na madrugada.

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Em Guaianases, na zona leste de São Paulo, duas moradoras dizem que também vivenciam a falta de água. Na casa de Cláudia Silva o problema acontece todos os anos nessa mesma época. Dessa vez, a água começou a escassear há cerca de três semanas. A partir das 23 horas, ela relata que não consegue fazer atividades básicas como tomar banho e escovar os dentes. “Geralmente a gente guarda água durante o dia para não ficar totalmente sem”, conta.

Para Maria Lima, de Guaianases, o desabastecimento de água já dura cerca de dois meses. As torneiras ficam secas todos os dias a partir das 21 horas. Ela precisa mudar alguns elementos da rotina da casa, como o horário das refeições, para ter água suficiente para lavar a louça. O problema, conta, se repete na casa de vizinhos.

Mirella de Stefano, que mora na Consolação, começou a enfrentar o problema há cerca de duas semanas, após uma manutenção na caixa d’água do prédio onde mora. “Com o horário atual de fornecimento da Sabesp não dá tempo de encher a caixa”, diz. Dessa forma, os moradores ficam desabastecidos durante a noite e até em alguns momentos do dia. Para driblar o problema, eles têm de guardar água para cozinhar, usar o banheiro e tomar banho.

Líderes comunitários dos bairros do Butantã, da Barra Funda e do Alto de Pinheiros disseram ao Estadão que receberam reclamações de moradores sobre a falta de água. O site da Sabesp mostra que há redução da pressão entre 21 e 5 horas em todos os locais mencionados na reportagem.

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Mais prejudicados

Roberval Tavares de Souza diz que moradores com caixas d’água adequadas não percebem a redução da pressão porque o reservatório é suficiente para dar conta da demanda noturna. Apesar de ser um item essencial, a caixa d’água não está presente em todas as casas.  A Sabesp tem um programa de doação de caixa d’água para a população de baixa renda. Para solicitar, o morador pode ligar para o número 195. A companhia vai até o local, analisa a situação e, se for o caso, entrega o reservatório.

A Sabesp também diz, em nota oficial, que o registro de reclamações por falta de água caiu 13,6% entre janeiro e julho deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. O número representa 0,046% dos 28,5 milhões de clientes. “A Sabesp informa que a gestão de pressão noturna ocorre da mesma forma em toda a região metropolitana de São Paulo, no horário das 21 às 5 horas, exceto em alguns setores onde isso é tecnicamente inviável”, informa.

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