Monsenhor é detido pela PF com 52 mil euros e responderá por evasão

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Por Gabriela Moreira
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Às 10h do último domingo, o responsável pelas finanças da Arquidiocese do Rio, monsenhor Abílio Ferreira, celebrou missa na Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana, zona sul, como faz há décadas. Pouco antes das 20h, ele foi preso em flagrante pela Polícia Federal tentando embarcar para a cidade do Porto, em Portugal, com cerca de R$ 102,6 mil não declarados. Monsenhor Abílio tem 77 anos e não ficou preso. Apesar de ter sido autuado por suspeita de evasão de divisas, que prevê pena de prisão mínima de dois anos e máxima de seis, em caso de condenação, seus advogados pediram a liberdade provisória, alegando que o religioso possui bons antecedentes, tem mais de 70 anos e sofre com "diversos problemas de saúde". A Justiça aceitou o pedido e determinou que Abílio compareça às audiências quando forem marcadas. Na mala em que o montante foi encontrado havia 52.895 e US$ 778. O monsenhor só havia declarado 7.000. O restante foi apreendido por agentes da delegacia do Aeroporto Internacional Tom Jobim e encaminhado para um cofre no Banco Central. Explicação. Em entrevista pelo telefone de seu apartamento na orla da praia da Barra da Tijuca, zona oeste, o monsenhor afirmou que o dinheiro seria levado para seus parentes e para a igreja na qual foi batizado, em Póvoa de Varzim, em Portugal. Segundo Abílio, a quantia é fruto de economias feitas ao longo de cinco anos. "Você pode pegar a minha declaração de Imposto de Renda e ver que está tudo lá. Não é tanto dinheiro assim. Eu ia fazer benesses e agora não vou mais poder. Este dinheiro não é da Igreja, é meu", disse ele, que afirmou não receber salário da Arquidiocese. "A Igreja me dá casa, comida e roupa lavada. Recebo também pelas atividades presbiterais", afirmou. Ao ser questionado sobre o apartamento no qual estava no momento da entrevista, o monsenhor afirmou que o imóvel é herança de seu pai. "Eu moro na paróquia. Aqui é só um cantinho onde venho me refugiar", disse. Sobre a acusação de evasão de divisas, o religioso afirmou não saber que o dinheiro deveria ser declarado. Denúncia. A polícia chegou ao monsenhor por meio de informações repassadas pelo disque-denúncia.Ao avistarem o religioso, os agentes separaram a bagagem e quando Abílio se dirigia à sala de embarque do voo 182 da companhia TAP (Transportes Aéreos Portugueses), por volta das 20h, pediram para que ele abrisse a mala.Durante o depoimento, o ecônomo foi auxiliado por advogados da Igreja Católica no Rio.PARA LEMBRARAntecessor foi acusado de corrupçãoHá pouco mais de um ano, monsenhor Abílio assumiu a responsabilidade pelas finanças da Arquidiocese com a promessa de moralizar a Igreja. Seu antecessor, o ecônomo Edvino Steckel, fora afastado sob suspeita de corrupção. Abílio - que antes de Steckel já ocupara o cargo - declarou à época de sua nova posse que pretendia "reparar o que for possível e trazer de volta a austeridade". Na ocasião, ele levantou suspeitas sobre Steckel. "Não sei para onde foram os R$ 7 milhões que deixei no caixa", disse.

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