
09 de setembro de 2010 | 00h00
Monsenhor Abílio tem 77 anos e não ficou preso. Apesar de ter sido autuado por suspeita de evasão de divisas, que prevê pena de prisão mínima de dois anos e máxima de seis, em caso de condenação, seus advogados pediram a liberdade provisória, alegando que o religioso possui bons antecedentes, tem mais de 70 anos e sofre com "diversos problemas de saúde".
A Justiça aceitou o pedido e determinou que Abílio compareça às audiências quando forem marcadas.
Na mala em que o montante foi encontrado havia 52.895 e US$ 778. O monsenhor só havia declarado 7.000.
O restante foi apreendido por agentes da delegacia do Aeroporto Internacional Tom Jobim e encaminhado para um cofre no Banco Central.
Explicação. Em entrevista pelo telefone de seu apartamento na orla da praia da Barra da Tijuca, zona oeste, o monsenhor afirmou que o dinheiro seria levado para seus parentes e para a igreja na qual foi batizado, em Póvoa de Varzim, em Portugal.
Segundo Abílio, a quantia é fruto de economias feitas ao longo de cinco anos.
"Você pode pegar a minha declaração de Imposto de Renda e ver que está tudo lá. Não é tanto dinheiro assim. Eu ia fazer benesses e agora não vou mais poder. Este dinheiro não é da Igreja, é meu", disse ele, que afirmou não receber salário da Arquidiocese.
"A Igreja me dá casa, comida e roupa lavada. Recebo também pelas atividades presbiterais", afirmou.
Ao ser questionado sobre o apartamento no qual estava no momento da entrevista, o monsenhor afirmou que o imóvel é herança de seu pai.
"Eu moro na paróquia. Aqui é só um cantinho onde venho me refugiar", disse.
Sobre a acusação de evasão de divisas, o religioso afirmou não saber que o dinheiro deveria ser declarado.
Denúncia. A polícia chegou ao monsenhor por meio de informações repassadas pelo disque-denúncia.
Ao avistarem o religioso, os agentes separaram a bagagem e quando Abílio se dirigia à sala de embarque do voo 182 da companhia TAP (Transportes Aéreos Portugueses), por volta das 20h, pediram para que ele abrisse a mala.
Durante o depoimento, o ecônomo foi auxiliado por advogados da Igreja Católica no Rio.
PARA LEMBRAR
Antecessor foi acusado de corrupção
Há pouco mais de um ano, monsenhor Abílio assumiu a responsabilidade pelas finanças da Arquidiocese com a promessa de moralizar a Igreja. Seu antecessor, o ecônomo Edvino Steckel, fora afastado sob suspeita de corrupção. Abílio - que antes de Steckel já ocupara o cargo - declarou à época de sua nova posse que pretendia "reparar o que for possível e trazer de volta a austeridade". Na ocasião, ele levantou suspeitas sobre Steckel. "Não sei para onde foram os R$ 7 milhões que deixei no caixa", disse.
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