
04 de junho de 2012 | 03h05
O torreão tinha propósito meramente decorativo, na parte alta do antigo Morro do Jaguaré, na propriedade de 363 hectares do engenheiro agrônomo Henrique Dumont Villares, sobrinho de Santos Dumont. Inspirado em complexos residenciais e industriais suburbanos que visitara em Manchester e Londres, na Inglaterra, e no Kansas e em Chicago, nos Estados Unidos, criou ele o projeto de um bairro baseado nas mais modernas concepções de uso urbano do solo.
O projeto de Villares era também um projeto de inovação social. Defendia subsídios para que as classes trabalhadoras tivessem moradia adequada e não caíssem na promiscuidade de cortiços e favelas. Era contra apartamentos populares e a favor de casas populares com jardins e infraestrutura de serviços que libertasse a mulher da injustiça do trabalho doméstico penoso. Foi quem primeiro falou entre nós em "consciência social da casa".
As casas operárias que construiu no bairro eram chalés modernos, cercados de terreno para jardim e horta. Várias dessas casas ainda estão de pé. Construiu restaurante e escola modernos. Previu um estádio e um centro de lazer. Foram plantadas 5 mil árvores. Terras foram doadas para a Congregação de Santa Cruz para implementar a Paróquia de São José do Jaguaré, em 1945.
Parte do antigo morro foi arrasada com jatos hidráulicos para nivelar o terreno para os lotes destinados a armazéns e fábricas, servidos por um leque de ramais da Estrada de Ferro Sorocabana, que margeava o Rio Pinheiros. Restos dos trilhos ainda estão por lá. Construiu o pontilhão de concreto armado sobre o rio, na Avenida Jaguaré. Desativado, é testemunha do sonho inconcluso. Villares doou 150 mil m² à Prefeitura para a criação de uma área de lazer. Nos anos 60, porém, a área começou a ser invadida, surgindo ali a favela Nova Jaguaré, que tem hoje 10 mil moradores.
Curiosamente, no plano de Villares havia uma crítica às habitações populares impróprias e insalubres. Previa habitações inspiradas nos famosos e idílicos subúrbios ingleses e americanos e nesse sentido projetou a parte residencial do bairro. A água de uso industrial viria do Ribeirão Jaguaré, limpa e sem necessidade de filtragem. Hoje é um esgoto fétido, documento do sonho urbanístico derrotado.
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