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‘Minipraças’ avançam na capital, mas estão concentradas em bairros nobres

Mapa oficial mostra que a região da Avenida Paulista e os bairros de Pinheiros, Vila Madalena, Jardins e Itaim-Bibi são os que têm o maior número de parklets; na periferia só existem 3 equipamentos

Foto do author Adriana Ferraz
Por Adriana Ferraz
Atualização:

SÃO PAULO - Quase dois anos após a regulamentação dos parklets em São Paulo, ainda são os bairros nobres os mais favorecidos com a criação desses novos espaços públicos na cidade, que funcionam, na prática, como minipraças. O mapa oficial mostra que a região da Avenida Paulista e os bairros de Pinheiros, Vila Madalena, Jardins e Itaim-Bibi são os que concentram o maior número de equipamentos. Na contramão, bairros da periferia receberam só três unidades, pagas pela Prefeitura.

Cada parklet deve ter 10 metros de largura e oferecer bancos, paraciclos, lixeiras, guarda-sol e floreiras. O objetivo é atrair o pedestre para um descanso rápido, servir de ponto de encontro, local para fazer um lanche ou até uma reunião de negócios. Com estruturas móveis e temporárias, ocupam duas vagas de estacionamento para carros, em uma extensão da calçada.

Gestão analisa 69 pedidos de instalação. Na imagem, estrutura instalada na Oscar Freire Foto: Werther Santana

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Desde abril de 2014, quando o prefeito Fernando Haddad (PT) regulamentou os parklets na capital, a iniciativa privada viabilizou todos os 55 espaços existentes hoje na cidade, com exceção das três estruturas municipais instaladas em Itaquera, São Miguel Paulista e Sapopemba. De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, o número de “parklets privados” pode dobrar nos próximos meses, uma vez que 69 pedidos de instalação estão em processo de aprovação.

Custo. Unidades mais básicas custam, em média, R$ 30 mil e “funcionam” por até três anos – prazo que pode ser renovado em novo convênio. Já as mais elaboradas saem por até R$ 80 mil. Com patrocinadores de peso, como Ambev, Heineken, Brahma e Even, as minipraças existentes hoje ocupam, normalmente, a frente de restaurantes, bares e lojas de vias movimentadas, como a Rua dos Pinheiros, em Pinheiros, e a Alameda Lorena, nos Jardins.

Quem patrocina também é responsável pela manutenção do espaço e dos “extras” oferecidos. No parklet instalado na frente da padaria artesanal Pão, na Rua Bela Cintra, os usuários podem recarregar o celular em tomadas abastecidas com energia solar, levar para casa ervas cultivadas em uma horta montada no local e ainda dar água a seus cachorros.

“É um espaço confortável. A cidade precisa de mais alternativas como essa. A gente ainda explora muito mal os espaços públicos”, afirmou o publicitário Marcelo Zampini, de 38 anos, que usa diariamente o parklet. Na quinta-feira, ele e o colega Daniel Kamagusuku, de 33 anos, tomavam café no local.

Para o gerente da padaria, Caio Reis, de 27 anos, a estrutura valorizou o comércio. “Foi muito bom para os clientes, que agora podem esperar sentados, mas a ordem aqui é não servir direto lá. Quem quer café tem de pedir no caixa”, afirma, referindo-se à regra que veta a privatização do espaço público.

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Perto dali, na Rua Oscar Freire, o turista Lavoisier Monney, de 37 anos, elogiava os cinco parklets montados na via. “Faz 20 anos que me mudei daqui dos Jardins para Mato Grosso do Sul. Naquela época, não tinha nada parecido. É uma ideia muito boa essa. Os espaços são convidativos e democráticos. Estaria de pé esperando minha mulher sair da loja se não fossem esses bancos”, disse, ao lado de outras sete pessoas, entre idosos, adultos e crianças.

Formatos. Os parklets da capital não têm projeto padronizado. Como eles contribuem para a qualificação da paisagem urbana e do percurso de quem caminha na cidade, o indicado, segundo o arquiteto Guilherme Ortenblad, é que tenham formas e usos distintos.  “É interessante que o mobiliário básico permita o conforto e o convívio dos usuários, usando bancos com encosto, por exemplo. É possível explorar outros layouts, como mesas coletivas, espreguiçadeiras, bebedouros, palcos para manifestações artísticas e até biblioteca colaborativa”, diz o criador do grupo Zoom Arquitetura, responsável pela criação de 45 dos 55 parklets já existentes na capital. A biblioteca funciona em uma das estruturas montadas na Rua Mateus Grou, em Pinheiros. Os usuários podem aproveitar a leitura no local ou mesmo levar livros e revistas para casa. 

É o que faz a estagiária Isabella Mendonça, de 21 anos. “É muito bacana essa possibilidade de sair um pouco do trabalho, ver uma revista. A cidade toda deveria ter essa opção”, afirma. 

A Prefeitura diz que pretende levar um parklet para cada uma das 32 subprefeituras. A instalação das estruturas está prevista para ser finalizada em setembro deste ano.

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Moradores vão aos parklets para ler, comer e descansar

Criados na Califórnia e introduzidos no Brasil pelo Instituto Mobilidade Verde, os parklets são frequentados mais de uma vez na semana por pessoas que trabalham na vizinhança e querem descansar. É o que mostram pesquisas feitas pela ONG em São Paulo.

No espaço localizado no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Padre João Manuel, o primeiro instalado na América Latina, a maioria dos usuários tem entre 19 e 40 anos de idade e aproveita o espaço para descansar. Outros usos relatados foram ler, comer, beber e encontrar amigos. Em média, estima-se que ao menos 300 pessoas passem pelo parklet por dia.

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Para o presidente da ONG, Lincoln Paiva, o número de estruturas já instaladas e de pedidos protocolados na Prefeitura comprovam que a cidade carece de mais espaços públicos e a população os aprova. “Os parklets conversam com as pessoas, ajudam a urbanizar a cidade por meio da ocupação. É disso que precisamos em São Paulo”, diz.

A instalação das minipraças, segundo Paiva, é importante em bairros nobres, uma vez que os cafés disponíveis no centro expandido para as pessoas se sentarem são caros e nada convidativos para a classe mais baixa. “Do mesmo modo é importante observarmos o resultado dessas estruturas na periferia. Quanto mais opções para todos, melhor.”

O equipamento da Avenida Paulista, que é mantido pela administradora do Edifício Barão de Itatiaya, foi aberto em abril de 2014, com a presença do prefeito Fernando Haddad (PT). De lá para cá, parte de sua estrutura já foi trocada em função de atos de vandalismo. O espaço atual está sempre cheio de turistas, pessoas que trabalham na região e moradores da área.

Para a comerciante Dolores Peixoto, de 41 anos, o espaço é bastante convidativo para o descanso e tem outros benefícios. “É ótimo ter essa opção na cidade. Isso sem falar que tiramos duas vagas de carro das ruas. Viu como não faz falta?"