Minhocão ganha bancos, arquibancadas e acessos temporários a partir deste sábado

Vinte e oito peças de mobiliário urbano estarão disponíveis na parte superior do elevado nos fins de semana; ‘minipraças’ também serão inauguradas abaixo do viaduto

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Por Priscila Mengue
Atualização:

O Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, ganhará novos acessos, mobiliário urbano e "minipraças" a partir deste sábado, 1º. Embora a ação potencialize o uso do viaduto da cidade de São Paulo como parque, o destino e a data da desativação para veículos seguem indefinidos e em discussão.

O novo mobiliário consiste em três arquibancadas modulares, cinco tablados (com encosto) e 20 bancos modulares, todos de madeira e com a função principal de servir de assento para os frequentadores da parte superior do elevado. As peças não são fixas e serão montadas nas proximidades dos trechos do Terminal Amaral Gurgel e da Praça Marechal Deodoro apenas nos fins de semana. 

Tablados serão instalados nos fins de semana na parte superior do Minhocão Foto: SMUL/SP-Urbanismo

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A iniciativa tem caráter experimental. Nas próximas semanas, a Prefeitura também instalará ombrelones (grandes guarda-sóis), para fazer sombreamento. “Estamos ajustando a forma de fixação desse material para evitar possíveis quebras ou retirada indesejada”, explicou a gestão Bruno Covas (PSDB) em nota.

O mobiliário faz parte do programa Centro Aberto, que também abrirá pela primeira vez as duas unidades prontas debaixo do viaduto, localizadas nos mesmos trechos dos móveis. Elas funcionarão como “minipraças”, com aparelhos de ginástica, bancos, mesas de piquenique e brinquedos para o uso da população em horário livre.

Três arquibancadas também serão instaladas no elevado do centro de São Paulo Foto: SMUL/SP-Urbanismo

Neste momento, não haverá, contudo, empréstimo de cadeiras, disponibilização de internet e outras atividades geralmente realizadas pelo programa, que estão pausadas durante a pandemia. As unidades mais conhecidas do Centro Aberto ficam na , como a do Largo São Bento, onde há um deque e, antes da covid-19, eram realizadas partidas de xadrez e ações do Sesc.

As iniciativas são alinhadas ao chamado “urbanismo tático”, que prevê a realização de intervenções rápidas, reversíveis e flexíveis em espaços públicos, adotadas em países como a Dinamarca, a Espanha e a Colômbia. No caso das duas unidades abaixo do Minhocão, também incluem duas escadarias de metal temporárias, que igualmente terão inauguração neste sábado e permitem o acesso à parte superior do elevado. 

Duas unidades do programa Centro Aberto serão inauguradas neste sábado debaixo do Minhocão Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O custo estimado da instalação das unidades do Centro Aberto e do mobiliário é de R$ 1,8 milhão. Já as escadas são alugadas mensalmente por cerca de R$ 15 mil ao mês e têm permanência prevista de dois anos, de acordo com a gestão municipal.

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Os novos acessos foram implantados após recomendação do Ministério Público, assim como há a previsão de instalação de gradis na parte superior até maio. “Paralelamente, a Prefeitura está estudando as condições para instalação de outros acessos definitivos ao longo do elevado”, apontou a gestão em nota.

“O objetivo é tornar o local mais seguro e acessível à população”, acrescentou. “A valorização de espaços de convivência ao ar livre é uma das mudanças de comportamento nas cidades decorrentes da pandemia. Qualificar cada vez mais esses espaços urbanos é um dever dos gestores públicos diante da mais grave crise sanitária.”

Escadas temporárias vão interligar unidades do Centro Aberto à parte superior do Minhocão Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Um teste da instalação do mobiliário foi fotografado por um morador e publicado nas redes sociais nesta semana. "O parque é real. Acho que sai", comemorou uma pessoa nos comentários. Já outra afirmou que "nem precisa de bancos de madeira, e sim de segurança".

Atualmente, o Minhocão está aberto a pedestres aos sábados e domingos, das 8 às 19 horas, mas alterações no funcionamento podem ocorrer a depender da pandemia. Frequentado para fins de lazer e atividade esportiva, o espaço tem ganhado também a atenção de marcas, que transformaram mais de 20 empenas cegas dos edifícios do entorno em murais gigantes

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Em paralelo, o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) que definirá o destino do Minhocão segue “em andamento” na Prefeitura após consulta pública em 2019, considerando tanto o uso como parque quanto a demolição ou desmonte. Naquele ano, a gestão Covas chegou a anunciar a transformação definitiva do trecho entre o Terminal Amaral Gurgel e a Rua da Consolação em parque, com entrega em 2020, mas voltou atrás.

Construído nos anos 70, durante a gestão de Paulo Maluf, o Minhocão completou 50 anos em 2021 em meio a contrastes, em que as desigualdades sociais do entorno estão evidentes. A parte inferior do viaduto se tornou teto de dezenas de pessoas em situação de rua, enquanto novos edifícios de classe média são lançados no seu entorno. 

A desativação do tráfego de carros na parte superior está determinada no Plano Diretor, de 2014. A lei passa, contudo, por um processo de revisão neste ano

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Escadas de acesso permanecerão no local ao menos por dois anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Entre os dois principais grupos organizados de moradores voltados a reivindicar um destino ao espaço, a entrega de novos mobiliários e acessos divide opiniões. A associação Parque Minhocão já havia elogiado a iniciativa em matéria do Estadão deste mês, na qual o seu presidente, Felipe Morozini, disse se tratar de “mais um passo importante para o fechamento para carros”.

"Se o elevado já tem o uso feito pelas pessoas, então vamos fazer rampas, escadas, porque as entradas que existem foram teoricamente feitas para carros", aponta. Ele também elogia os Centros Abertos, como uma forma de "requalificação do espaço público".

Na mesma reportagem, Francisco Machado, um dos diretores do Desmonte Minhocão, criticou as novidades, que chamou de “farra de dinheiro público”. Para ele, as escadas e a manutenção da estrutura do elevado pioram a segurança da região, além de outros danos. 

“É lamentável que, no meio dessa pandemia, com milhares de mortes, carência de atendimento do serviço municipal, a Prefeitura esteja despendendo para essas escadarias. Pergunto: qual é a prioridade: saúde pública ou escadarias?”, completa.

Projeto prevê instalação de ombrelones no novo mobiliário do Minhocão Foto: SMUL/SP-Urbanismo
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