14 de dezembro de 2014 | 02h02
Essa queda, uma tendência que vem sendo verificada nas últimas décadas, mostra que medidas como campanhas contra o cigarro, maior nível de informação da população sobre riscos do tabaco e derivados, restrição de publicidade e leis que proíbem o fumo parecem estar surtindo efeito.
Por falar em lei, desde o início de dezembro, entrou em vigor a lei antifumo em todo o País, que já existia desde 2011, mas só foi regulamentada no início deste semestre. Como já acontecia em São Paulo e no Rio, que tinham leis estaduais, fica proibido o consumo de cigarro em ambientes fechados de uso coletivo. Também ficam proibidos fumódromos e propagandas de cigarro nos pontos de venda (displays). Narguilé, charuto, cachimbo e cigarrilha também ficam proibidos em ambientes fechados, públicos ou privados.
Dados anteriores do Ministério da Saúde mostram que nas capitais o número de fumantes é ainda menor. Em 2006, 15,7% dos adultos fumavam e, em 2013, o número caiu para 11,3%. Só para comparação, no fim da década de 1980, quase 35% da população adulta fumava nas capitais. A meta do governo é que o número caia a 9% em 2022.
Apesar da queda, é bom alertar que ainda morrem cerca de 200 mil pessoas por causa do cigarro no País, todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Frente de batalha. A lei antifumo define uma ampliação do espaço nas embalagens dedicado a imagens e textos de advertência sobre riscos e danos do produto, que agora deve contemplar 100% da face posterior e uma das laterais do maço. Até 2016, o espaço será aumentado ainda mais.
O maço é mais uma frente de batalha na luta contra o tabagismo. Na Austrália, desde 2012, vale o plain packaging - maços de cores discretas, sem marcas e com grandes imagens de advertência. Outros países, como Reino Unido, Irlanda, França e Nova Zelândia, estudam medidas semelhantes. A embalagem é considerada um grande atrativo para o consumidor de cigarro, além de ser espaço livre para a publicidade.
De acordo com reportagem da BBC Brasil, os especialistas esperam que, da mesma forma que a adoção de imagens fortes e obrigatórias nos maços rapidamente se expandiu no mundo (serão 95 países em 2016), a política do plain packaging também deva sofrer um efeito dominó.
Narguilé. A proibição do uso de narguilé nos ambientes fechados também deve ter um impacto importante no comportamento dos mais jovens, faixa da população em que o consumo é mais popular.
De acordo com reportagem do Estado, citando pesquisa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), 80% dos estudantes da área da saúde de São Paulo e 63% de Brasília, que fazem uso frequente de derivados de tabaco diferentes do cigarro, já experimentaram o narguilé. Outro curioso estudo, do Instituto de Tecnologia de Israel, mostra que o envolvimento em acidentes de trânsito entre usuários de narguilé é 40% maior do que entre os que não usam o artefato, possivelmente por uma menor oxigenação do cérebro. Como resultado: reflexos lentos, alterações visuais e falta de controle.
Os novos números da PNS e as evidências das novas pesquisas reforçam a importância de trabalhar prevenção ao uso de tabaco e derivados na população mais jovem e também na população potencialmente menos informada sobre seus riscos, que mora hoje em áreas rurais e longe das capitais.
JAIRO BOUER É PSIQUIATRA
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