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Massacre de Suzano divide opinião de senadores sobre flexibilização da posse e porte de arma

Enquanto alguns congressistas defenderam a flexibilização do porte de armas, outros criticaram o uso do ataque a tiros para fazer campanha contra ou a favor do decreto do presidente Jair Bolsonaro

Por Teo Cury
Atualização:
Massacre em escola deixou mortos e feridos Foto: Felipe Rau/Estadão

Brasília - O massacre na escola de Suzano, na Grande São Paulo, nesta quarta-feira, 13, dividiu a opinião de senadores a respeito da política de flexibilização da posse e do porte de armas. Entre os mortos há cinco alunos, uma coordenadora pedagógica, uma funcionária da escola e um funcionário de uma locadora de veículos. Os dois atiradores se suicidaram.

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Em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que altera regras para facilitar a posse de armas de fogo - a possibilidade de o cidadão guardar o equipamento na residência ou no estabelecimento comercial de que seja dono. É a primeira medida do presidente em relação ao compromisso de campanha de armar a população, mas ele ainda tentará futuramente flexibilizar o próprio porte de armas.

Pelo Twitter, o senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente, expressou seus sentimentos aos familiares das vítimas assassinadas e afirmou que o ataque é “mais uma tragédia protagonizada por menor de idade e que atesta o fracasso do malfadado estatuto do desarmamento, ainda em vigor”.

O senador Marcos do Val (PPS-ES) disse ao Broadcast Político que se um segurança da escola estivesse armado ou se uma pessoa que estivesse passando pelo local ou na escola estivesse armada o massacre não teria acontecido.

“Se fosse uma escola com segurança armado você acha que isso aconteceria? Muito pouco provável. Se tivesse um cidadão honesto armado não teria tantas mortes. O brasileiro ainda vê a arma como usada de forma a tirar a vida. Vejo como forma de proteger a vida”, disse.

Na avaliação do senador, é impossível desarmar criminosos. “Isso é uma utopia, não existe em lugar nenhum do mundo. A sociedade precisa agora entender que ter o cidadão de bem armado é uma força aliada da polícia. A gente não tem bombeiro em todas as esquinas e apartamentos. Mas temos extintores. O cidadão é a primeira resposta até a chegada.”

No Twitter, o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), escreveu que é preciso que as autoridades reflitam sobre se a solução de facilitar o acesso a armas “é sensato e oportuno”. Para ele, não é. “A cultura belicista estimula atos violentos e não é solução para nosso grave problema de segurança pública. Devemos sim, cultivar e trabalhar por uma cultura de paz.”

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O senador Humberto Costa (PT-PE) escreveu nas redes sociais que a facilitação de acesso a armas gera mais tragédias. “Armar a sociedade não vai nos trazer paz. Somente mais violência. E quem, além de tudo, estimula o uso de armas por crianças e adolescentes comete um ato criminoso contra a infância e a juventude, contra a sociedade.”

Durante a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado na manhã desta quarta-feira, 13, o senador Major Olimpio (PSL-SP) disse que, se algum funcionário da escola portasse arma de fogo, a tragédia que aconteceu nesta manhã em uma escola de Suzano, na Grande São Paulo, seria minimizada.

"Se tivesse um cidadão com uma arma regular dentro da escola, professor, servente, policial aposentado trabalhando lá, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia", discursou. O senador atacou fortemente o Estatuto do Desarmamento e os críticos do decreto assinado por Bolsonaro. Para ele, apesar do decreto presidencial, a legislação continua muito restritiva e peca por omissão.

"Vamos, sem hipocrisia, chorar os mortos, vamos discutir a legislação: onde nós estamos sendo omissos?", disse o senador, que argumentou pelo direito do cidadão comum de ter maior acesso a armas dizendo que "a população botou Bolsonaro como presidente da República para ser um impulsionador de garantias para o cidadão, para que não tenhamos tragédias desta natureza".

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Na mesma sessão da CCJ, o senador Mecias de Jesus (PRB-RR) disse que o Estatuto do Desarmamento “desarmou o cidadão de bem” e “tirou a arma do pai de família”.

“Quando o bandido chega na casa de alguém para fazer um assalto, para entrar na casa alheia, entra com 100% de certeza de que o dono da casa não tem uma arma para se defender. E aí fica muito mais fácil para as famílias virarem alvo dos bandidos, que usam arma. O Estatuto do desarmamento não desarmou em nenhum momento os meliantes no Brasil.”

O ex-policial militar e senador Styvenson Valentim (Pode-RN) considera questionável a presença de pessoas armadas em ambiente escolar. “Dizer que seria uma forma de evitar ou combater eu não posso afirmar. Não posso garantir, como PM há 16 anos, que um confronto armado poderia ser benéfico ou prejudicial aos alunos. Seria um ambiente de escola com troca de tiros. Se esses assassinos tivessem certeza de que algo impedisse o que fossem fazer, que inibisse, eles fariam isso?”, indagou.

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Para o senador Alessandro Vieira (PPS-SE), armar pessoas dentro das escolas é uma “opinião que não tem pé nem cabeça”. Ele acha que o problema é “muito mais profundo”. O senador também repudia a atitude de colegas que usaram o massacre para fazer campanha contra ou a favor do decreto do presidente Jair Bolsonaro.

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Pela manhã, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que recebeu com “perplexidade” a notícia do massacre e se solidarizou com as famílias das vítimas. Ele disse ainda que as pessoas estão inseguras e que o Estado “não está tendo condições de dar tranquilidade" para elas.

“A questão do porte, das penas que são impostas pela legislação, essa reformulação e modernização dessa legislação, serão debatidas em conjunto. A gente não pode tratar um fato isolado em relação a matérias que estão tramitando. Então vamos juntar as matérias e o plenário, o Senado e as comissões vão definir e deliberar sobre elas”, disse Alcolumbre.

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