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Masp faz solenidade para receber quadros furtados

Obras recuperadas pela polícia na terça-feira são avaliadas em cerca de R$ 100 milhões; dois foram presos

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

Sob forte esquema de segurança, a polícia de São Paulo devolveu, às 11h02 desta quarta-feira, os dois quadros furtados do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Pelo menos cinco carros, 14 motos e um helicóptero Pelicano da Polícia Militar escoltaram um furgão onde estavam as telas O Retrato de Suzanne Bloch, de Picasso, e O Lavrador de Café, de Portinari. As obras foram recuperadas na terça-feira, 8, 19 dias após o furto. O arquiteto Julio Neves, presidente do Masp, recebeu oficialmente as obras em solenidade que contou com a participação de diversas autoridades, a maioria integrantes do governo do Estado. Na coletiva de imprensa que aconteceu no museu, Neves fez vários elogios à atuação da polícia e dos órgãos públicos. "Esse País cresce pelo trabalho dos anônimos", afirmou. "Devemos ter orgulho da nossa polícia". Neves lembrou que esse foi o primeiro caso de furto no museu em 60 anos de funcionamento. E destacou que, nos últimos 10 anos, mais de 3,5 milhões de pessoas visitaram o museu paulista. Segundo Neves, várias medidas de segurança interna - que ele não quis listar - foram e serão tomadas para evitar um acontecimento parecido. A única medida citada foi a instalação de câmeras na avenida Paulista, por determinação do prefeito Gilberto Kassab (DEM). O presidente do Masp também elogiou o acervo do museu, que chamou de "patrimônio histórico do País" e destacou que o museu já participou de mais de 80 exposições em todo o mundo, emprestando obras, sem as quais algumas exposições não teriam sido feitas. Ele destacou que as obras do museu são "insubstituíveis" porque cada obra de arte é única e original. Investigação Segundo as primeiras informações policiais, os bandidos que furtaram as duas receberiam R$ 5 milhões pelas obras. Agora, os investigadores estão à caça do mentor do crime. A polícia já prendeu dois homens e identificou um terceiro. Os dois quadros, avaliados em cerca de R$ 100 milhões, estavam escondidos em uma casa do município de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. O furto de 20 de dezembro foi praticado por três bandidos. Uma dos suspeitos já tinha sido detido, uma semana depois do roubo das telas. Na terça-feira, a polícia chegou a Robson de Jesus Jordão, de 32 anos, foragido da Penitenciária de Valparaíso. Ele foi preso no centro da capital e confirmou o endereço onde as obras estavam escondidas. O terceiro cúmplice, segundo a polícia, deve ser preso em breve. "É evidente que eles não cometeram esse crime para eles e o próximo passo é chegar em quem encomendou as telas", disse o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Freire. Ele evitou passar mais detalhes sobre o caso "para não atrapalhar as investigações". O caso começou a ser esclarecido no dia 27. Na ocasião, policiais do Departamento de Investigações Sobre Crime Organizado (Deic) prenderam Francisco Laerton Lopes de Lima, de 33 anos, que confessou ter participado da primeira tentativa de roubo ao Masp, ocorrida em 29 de outubro, e de uma segunda investida, em 18 de dezembro. Em depoimento, Lima negou envolvimento na invasão que terminou com o furto das telas. "Mas já comprovamos que ele participou tanto das tentativas quanto do furto", declarou o delegado Marcelo Teixeira, titular da 3ª Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio do Deic. O acusado contou que, na primeira tentativa, ele e um cúmplice conseguiram dominar vigias do museu. O plano fracassou porque os funcionários não tinham a chave do elevador, que daria acesso à sala do acervo, no 2ºandar. Os ladrões tentaram forçar a entrada, o alarme disparou e os dois fugiram. O segundo ataque foi abortado por um erro dos criminosos. Eles exageraram na dosagem dos gases usados para acender um maçarico, o que provocou um forte clarão. Com medo de terem sido vistos, os dois recuaram. Resgate No mesmo dia em que Lima foi preso, um homem fez três telefonemas de orelhões na Rua Avanhandava, no centro, pedindo resgate de R$ 400 mil pelas telas. Os homens do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) passaram a vigiar a região, mas o suspeito não voltou a entrar em contato. Os investigadores desconfiaram de que podia se tratar de um golpista tentando vender o que não tinha em mãos. No dia 3, o presidente do museu, Julio Neves, recebeu uma carta, que, para a polícia, parecia ser a primeira manifestação concreta de quem estava em poder dos quadros. O autor da carta dizia querer US$ 10 milhões de resgate pelas obras. Alertava que a polícia e a imprensa deveriam ficar afastadas do caso. Exigia ainda que a direção do museu publicasse num jornal um anúncio sobre a venda de uma fazenda no Vale do Paraíba, com um número de celular para que o bandido fizesse a negociação. Enquanto isso, os policiais do Deic tentavam identificar o cúmplice do primeiro detido. Usando uma fotografia da carteira de motorista do suspeito, buscavam alguma testemunha que o reconhecesse. Na ocasião, os policiais desconfiavam que as obras poderiam sair do País e temiam que elas fossem queimadas, caso a investigação se tornasse pública. O Estado acompanhou a apuração, mas, diante do risco de as obras serem danificadas, não publicou as informações. (Colaboram Rodrigo Pereria, Bruno Tavares e Marcelo Godoy, de O Estado de S. Paulo)

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