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Manifestantes fazem 'abraçaço' contra cercamento da Praça Pôr do Sol

O ato foi organizado por um coletivo de cerca de 150 moradores e frequentadores da praça por meio das redes sociais

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Por Priscila Mengue
Atualização:
Moradores e frequentadores fazem ato contra o cercamento da Praça Pôr do Sol, no bairro Alto de Pinheiros. Foto: Felipe Rau/ESTADÃO

Moradores e frequentadores participaram na tarde deste domingo, 28, de um ato contra o cercamento da Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro, mais conhecida como Praça Pôr do Sol, em Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo. O abraçaço foi motivado pela instalação de alambrado, com custo de R$ 652,9 mil para a Prefeitura, em todo o entorno do espaço.

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O ato foi organizado por um coletivo de cerca de 150 moradores e frequentadores da praça, organizados pelas redes sociais e que usam a hashtag #PorDoSolSemCerca. O grupo quer reverter a decisão da gestão Bruno Covas (PSDB), que atendeu a pedidos da Associação Amigos do Alto de Pinheiros (SAAP) e da Associação de Moradores de City Boaçava, e defende que a discussão deveria ter embasamento técnico e ouvir a população por meio de audiências públicas.

Por causa da pandemia da covid-19, o grupo se organizou para que todos os participantes mantivessem dois metros de distância, utilizassem máscaras de proteção, enquanto seguravam um grande barbante que simbolizava a conexão entre as pessoas.

Segundo a gestão Bruno Covas (PSDB), a iniciativa tem o objetivo de permitir “o controle de pessoas para não causar aglomeração” durante a pandemia da covid-19 e facilitar a “conservação do local, que contém características de parque e recebe grande quantidade de frequentadores”. Além disso, a Prefeitura alega ter atendido “às solicitações de moradores da região”.  Questionada, não respondeu sobre as reivindicações de realizar audiências públicas sobre o destino do espaço.

Moradores e frequentadores fazem ato contra o cercamento da Praça Pôr do Sol, no bairro Alto de Pinheiros. Foto: Felipe Rau/ESTADÃO

A obra é realizada por uma empresa privada, contratada pela Subprefeitura de Pinheiros. O alambrado substitui um cercamento provisório com tapumes, colocado em abril do ano passado após o registro de aglomerações e que teve o custo de R$ 800 mil.

 Os horários de funcionamento e a capacidade máxima de ocupação estão em fase de estudos.“Foram instalados alambrados em vez de grades, por ser mais econômico”, acrescentou a Prefeitura, por meio de nota.

Com 28 mil metros quadrados, a praça atrai também moradores de outras regiões e turistas, especialmente pelo pôr do sol. A área verde teria se formado durante o loteamento da Cia City na região, mas foi nos anos 70 que ganhou o projeto das urbanistas Miranda Martinelli Magnoli e Rosa Kliass.

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Rosa é um dos maiores nomes do paisagismo no País, também por trás dos projetos da Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, do antigo Vale do Anhangabaú, no centro, e do Parque da Juventude, no Carandiru, zona norte, dentre outros. Um dos principais elementos adicionados pelas urbanistas na praça foi, a partir do aproveitamento da topografia do local, uma espécie de arquibancada voltada para o lado do pôr do sol.

Moradores e frequentadores fazem ato contra o cercamento da Praça Pôr do Sol, no bairro Alto de Pinheiros. Foto: Felipe Rau/ESTADÃO

Defensora do gradeamento, a SAAP destaca que o cercamento é uma demanda de parte dos moradores desde 2014. Segundo a associação, o aumento de frequentadores trouxe mais lixo, barulho e o consumo de bebidas e drogas durante a noite.  

Já o coletivo contrário ao cercamento defende que o espaço siga aberto, com a instalação de mais lixeiras, intensificação dos serviços de limpeza e coleta de lixo, garantia do cumprimento do Programa Silêncio Urbano (PSIU), melhora na iluminação, obras de acessibilidade e, ainda, a disponibilização de agentes de trânsito para organizar os engarrafamentos e evitar o estacionamento irregular.

Integrante do coletivo, a economista Juliana Leal, de 30 anos, é moradora do entorno desde 1995. “Defendo que os cidadãos devem ter direito à cidade, direito ao lazer, à cultura, saúde, educação. Para mim, o cercamento de um espaço público é muito simbólico no sentido que você está privando o direito das pessoas de ter isso, em vez de tentar outro tipo de solução”, defende.

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“Como sou frequentadora há muito tempo, eu sei que tem problemas, de grande quantidade de pessoas, lixo, barulho”, comenta. Para ela, o cercamento não “vai resolver nada” e que a melhoria das condições passa por melhorias na zeladoria e na iluminação, instalação de banheiros, vigilância e outras medidas. 

Ela critica, ainda, que a gestão municipal tratou a demanda do cercamento como se fosse de uma “ampla maioria de moradores”, o que discorda. “Essas coisas devem ser consultadas, é uma praça muito grande, que atrai muita gente”, destaca. “Aquela praça é um organismo vivo. Meus pais iam lá quando namoravam, eu ia lá quando namorava o meu marido, sempre estando ali, vivenciando com amigos, com música, sempre foi uma coisa muito viva.”

Moradores e frequentadores fazem ato contra o cercamento da Praça Pôr do Sol, no bairro Alto de Pinheiros. Foto: Felipe Rau/ESTADÃO

Frequentador da praça desde os anos 80, o cineasta Mauricio Faria, de 56 anos, acredita que os moradores que defendem a obra estão “iludidos” e que o cercamento vai trazer mais problemas, especialmente em relação à sensação de segurança. “É um achismo das associações, e a prefeitura fez uma licitação de quase R$ 700 mil baseada nesses achismos.”

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Ele também critica não ter sido apresentado um estudo técnico que comprove que o gradeamento trará benefícios para a região. “É uma licitação cara, ruim, baseada na vontade de moradores iludidos”, alega. “A Prefeitura foge do problema. A solução é muito mais complexa que uma cerca. Quando se cerca se cria um local, vazio, ermo, ainda mais à noite”, comenta.

“Tradicionalmente, a praça é um lugar turístico,um ponto de encontro da juventude. É muito difícil mudar o perfil, e não vejo motivo para isso. Sem essa juventude ocupando aquele espaço, pode vir coisa pior.”

Para o cineasta, o destino da praça deveria ser debatido pela população em geral, e não apenas por parte dos moradores, em audiências públicas. Ele cita, inclusive, um espaço semelhante perto de onde mora, na Aclimação, no centro expandido, que teria perdido frequentadores e cuidados após ser fechada.