Manifestantes depredam Ceagesp em protesto contra cobrança de estacionamento

Um caminhão, um carro, cabines de fiscalização, caçambas e prédios foram incendiados; pelo menos quatro seguranças do Ceagesp ficaram feridos por pedradas e houve tiros

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Por Celso Filho , Felipe Tau , Laura Maia de Castro , Monica Reolom e Victor Vieira
Atualização:

Atualizado às 18h04

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SÃO PAULO - Manifestantes contrários à cobrança de estacionamento na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), na Avenida Dr. Gastão Vidigal, Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, promoveram uma onda de depredação no local entre a manhã e a tarde desta sexta-feira, 14.

Segundo a Ceagesp, pelo menos quatro seguranças foram feridos a pedradas e tiveram de ser socorridos. De acordo com trabalhadores e pessoas que estavam na manifestação, houve tiros. Um homem foi atingido quando um grupo tentou entrar em um prédio administrativo. A vítima foi levada ao Hospital Universitário e passou por uma cirurgia. De acordo com a assessoria do HU, ele passa bem.

"Os vigias estavam guardando o prédio e os manifestantes pediram pra eles saírem. Como eles não atenderam, começaram a atacar com pedras e os guardas atiraram em um menino na barriga", disse o vendedor Rodrigo Mendes, de 24 anos, que trabalha no local. A assessoria de imprensa do Ceagesp afirmou que os tiros partiram dos seguranças, mas não soube dizer se alguém foi atingido.

O sistema de cobrança do estacionamento ficou totalmente danificado nas portarias 5 e 3 e o Ceagesp marcou para a tarde desta sexta uma reunião para avaliar os prejuízos e decidir as medidas a serem tomadas. Ainda não foi definido se o Ceagesp abrirá no sábado para o "varejão".

A feirante Fernanda Andrade de Camargo, que trabalha no pavilhão de verduras, disse que às 16 horas o clima no local era tranquilo e muitos comerciantes de áreas que não foram atingidas voltaram a trabalhar. No entanto, seguranças e a Polícia Militar não estavam permitindo a entrada e saída de pessoas no entreposto, o que poderia comprometer as vendas dos hortifrútis. "Ninguém entra e nem sai. Nas verduras, tudo está funcionando normalmente, parece que não aconteceu nada, mas o movimento está bem fraco", contou.

Às 17h40, os feirantes ainda não conseguiam entrar na Ceagesp para pegar as mercadorias já compradas. Segundo eles, todos os portões estão fechados e cerca de 50 caminhões aguardam para circular na Marginal. "Só precisamos pegar a nossa mercadoria. É um prejuízo estimado em cerca de R$ 20 mil porque eu tenho cinco bancas, imagina todos os outros feirantes que estão aí", disse o feirante Milton Lima, de 35 anos.

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A C3V (Companhia de Concessões em Circulação Veicular), responsável pela organização do sistema viário da Ceagesp, disse em nota lamentar os incidentes. A empresa ainda informou que na quinta-feira, primeiro dia de cobrança, não foram registrados problemas no funcionamento do sistema ou outros incidentes.

Investigação. O 91 DP (Ceagesp) já fez o registro parcial do boletim de ocorrência do tumulto da manhã desta sexta-feira, 14, na Ceagesp. A Polícia Civil investiga dano ao patrimônio público, lesão corporal, incêndio e associação criminosa (formação de quadrilha). A investigação de tentativa de homicídio depende da confirmação de feridos a bala e dos relatos de testemunhas e vítimas.

Segundo a Polícia Civil, as imagens das câmeras de segurança já foram solicitadas e os registros da central de monitoramento foram preservados, apesar da depredação.

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Pelo menos dez funcionários da empresa de segurança estão no DP para prestar depoimento. Também compareceram representantes da Ceagesp, da concessionária e da empresa que teve o guincho queimado durante a manifestação.

Como começou. Segundo a Polícia Militar, o pátio do entreposto foi invadido às 11h15 por cerca de 100 pessoas. Um grupo ateou fogo em caixas de frutas, cabines de fiscalização, caçambas, um armazém, um carro e em ao menos um caminhão no pátio do entreposto. Dois prédios, que seriam da administração, segundo funcionários, também foram incendiados - um deles seria depósito de arquivos e documentos da companhia.

A Marginal do Pinheiros somava cerca de 1 quilômetro de congestionamento nas proximidades da Ceagesp, entre a Avenida Alexandre Mackenzie e a Ponte do Jaguaré.

O Batalhão de Choque chegou ao local às 12h47 e se retirou por volta das 14 horas, quando a situação estava controlada. Segundo o tenente coronel José Balastiero, comandante do 2º Batalhão de Choque, sete viaturas com 150 homens do Choque foram enviadas. Balastiero disse que ninguém foi detido e afirmou que a tropa lançou três bombas de efeito moral e quatro de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Alguns deles lançaram frutas contra a tropa antes de correr.

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Segundo o coronel Mauro Lopes, porta-voz da PM, já havia viaturas no local, mas os policiais não partiram para o combate porque a situação fugiu do controle e seria necessário reforço.

Bombeiros. O capitão André Bastos disse que os bombeiros atuaram em três locais: no portão 13 e em dois prédios administrativos - um deles chamado entreposto. Segundo ele, o combate às chamas no prédio do entreposto, que foi o mais atingido, demorou cerca de 40 minutos. O prédio foi bastante danificado. "Foram utilizados contêineres de lixo incendiados para quebrar os vidros e houve propagação das chamas com o material de escritório que tinha la dentro." Foram empenhados 35 homens e 12 viaturas.

O tenente Vale, também dos bombeiros, relatou dificuldades para entrar no pátio, por causa da falta de segurança.

Tarifa. A cobrança de estacionamento no Ceagesp, maior entreposto comercial de alimentos da América Latina, começou nesta quinta-feira, 13, e desagradou comerciantes e frequentadores. Pelas novas regras, a permanência de automóveis e utilitários por uma hora será de R$ 6. A taxa aumenta progressivamente até R$ 50, acima de 10 horas. Motos pagam uma diária de R$ 2.

Caminhões de dois eixos terão tarifa de R$ 4 para até 4 horas, com o máximo de R$ 50 acima de 10 horas. As tarifas de caminhões de três a seis eixos começam em R$ 5, para 4 horas, e vão até R$ 60, acima de 10 horas. Aos sábados e domingos, o preço único para quem vai ao Varejão é de R$ 4.

A Ceagesp argumenta que a cobrança visa financiar a modernização da unidade, além de "disciplinar" o fluxo de veículos, evitando que caminhões ocupem vagas por dias.

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