Manete é foco da investigação das causas do acidente

A pista "molhada e escorregadia" pode também ter contribuído para a tragédia

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Passado um mês do acidente com o Airbus A320 da TAM, que deixou 199 mortos, os dados coletados até agora pela comissão de investigação ainda apontam para um erro no manuseio dos manetes.   Veja também Quem são as vítimas do vôo 3054 Todos os vídeos da tragédia   Todas as fotos do acidente  Especiais produzidos sobre a tragédia  Tudo sobre a tragédia do vôo 3054  Maiores desastres da aviação brasileira Cronologia da crise aérea   Daqui para a frente, no entanto, os peritos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) vão se concentrar na análise do que chamam de "árvore de falhas" do jato, uma compilação de todos os problemas técnicos registrados nos aviões da família A320 desde que eles entraram em operação.   O objetivo é verificar a repetição de alguma falha mecânica ou eletrônica. Na visão dos militares, ainda é cedo para descartar uma pane nos computadores do Airbus e até mesmo a contribuição da pista "molhada e escorregadia" do Aeroporto de Congonhas no acidente.   A Aeronáutica reiterou que o relatório final sobre a maior tragédia da aviação civil brasileira só deve estar concluído em 10 meses. Mas relatórios preliminares podem ser emitidos no decorrer da investigação.   A análise dos dados monitorados pelas caixas-pretas do Airbus A320 da TAM, que explodiu em 17 de julho, matando 199 pessoas, aponta que 15 segundos antes da colisão houve troca de comando na aeronave. De acordo com os parâmetros degravados, o co-piloto do jato, Henrique Stephanini di Sacco, assumiu as operações no lugar do comandante Kleyber Lima e realizou manobras na tentativa de evitar a colisão com o prédio da TAM Express, depois de o avião varar a pista principal do Aeroporto de Congonhas.   Os gráficos mostram que, no momento em que o avião toca o solo, às 18h48min26s, apenas Lima está no controle do avião. A situação muda 9 segundos depois, às 18h48min35s, quando o traço azul - correspondente ao piloto - não registra sinais de operação. E a linha vermelha - que indica as ações do co-piloto - começa a se sobrepor.   Confrontando os gráficos da caixa de dados do Airbus com a transcrição do diálogo dos pilotos na cabine, a troca de comando aconteceu logo depois de Lima ter dito a di Sacco que não conseguia desacelerar o avião. Às 18h48min33s, o piloto disse "Olha isso!". Pilotos e especialistas em segurança de vôo dizem que o comandante pode ter olhado os instrumentos da cabine que sinalizavam o aumento de potência do motor direito.   Às 18h48min34s, o co-piloto disse "Desacelera, desacelera". É quando o piloto reconhece: "Não consigo, não consigo". Nesse instante, a caixa-preta registra que o co-piloto assume o comando aeronave.   Os gráficos confirmam que o manete da turbina direita não se movimentou nenhum grau, permanecendo em ponto de aceleração máxima, enquanto a turbina esquerda passou a diminuir a potência. Outra informação revelada pelos dados da caixa-preta é que, após o toque no solo, os pilotos demoraram nove segundos para pressionar os pedais de freio do avião. "É uma demora exagerada", afirmou outra fonte.   A leitura dos dados confirma a principal hipótese sobre as causas do acidente, de que houve falha operacional na posição dos manetes. A comparação da leitura dos gráficos no momento em que o A320 pousou no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e em Congonhas evidenciam a falha. Em Porto Alegre, os dois manetes foram levados simultaneamente para a posição de marcha lenta (idle).   As prováveis causas   O manete permaneceu na posição de subida (Climb) quando deveria ter sido levado para marcha lenta (idle) e, em seguida, reverso. Como o reverso direito do Airbus A320 estava travado, isso gerou uma potência assimétrica. Ou seja: o avião não tinha condições de frear na pista de Congonhas, que estava molhada   Isso pode ter ocorrido por erro dos pilotos ou falha mecânica (o computador de bordo pode ter lido errado o comando dado pelos pilotos), o que, até agora, parece improvável, de acordo com as investigações   Outras hipóteses   A pista "molhada e escorregadia" pode ter contribuído para a tragédia. É improvável que a falta de grooving (ranhuras que ajudam a escoar a água) tenha sido determinante. Mas, há um componente psicológico   O reverso direito estava travado e os pilotos sabiam. Embora os aviões possam pousar assim, a FAB apura se isso influenciou num possível erro dos pilotos   O que já mudou   *A TAM anunciou que todos os seus Airbus serão equipados com alarmes para alertar sobre eventual erro no posicionamento dos manetes   *A companhia vetou o pouso de aviões com reversos travados em Congonhas   *O Aeroporto de Congonhas passou a ser fechado em caso de chuva, seja ela forte ou moderada   Desdobramentos políticos   *Obra da 3ª pista em Cumbica   *Transferência de 151 vôos de Congonhas para Cumbica   *Limitações em Congonhas: vôos só com duração de até 2 horas, redução de 44 para 33 slots e proibição de escalas e conexões   *Remanejamento de toda a aviação geral para Jundiaí

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.