Mais dois corpos são encontrados em Itaoca; número de mortos sobe para 16

Vítimas são Adacy José dos Santos, de 75 anos, e Luana Mota de Oliveira, de 6 anos, que constavam na lista de desaparecidos

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Mais dois corpos foram encontrados em Itaoca, cidade do sudoeste paulista, na tarde desta quinta-feira, 16, elevando para 16 o número de vítimas identificadas após as fortes chuvas que atingiram o município na madrugada da última segunda-feira, 13. Os corpos são de Adacy José dos Santos, de 75 anos, e de Luana Mota de Oliveira, de 6 anos, que constavam na lista de desaparecidos.

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Alívio. O choro de dona Maria da Glória de Jesus Rocha, de 61 anos, desta vez veio com uma pontinha de alívio. No quarto dia de buscas, o corpo do seu irmão, Deocleciano José da Rocha, de 75 anos, foi encontrado pelos bombeiros sob um monte de paus, na beira do rio Palmital, em Itaoca, no sudoeste paulista, a 343 km de São Paulo. 'Dió', como era chamado pelos familiares, é a 14ª vítima resgatada e identificada da tromba dágua que atingiu a cidade na madrugada de segunda-feira, 13.

Familiares que não se viam há um bom tempo se encontraram ao redor da cova rasa em que ele foi enterrado, no cemitério municipal, sem velório ou homenagens. "No meio da tristeza é até um alívio ter o corpo do meu irmão para enterrar, pois muitas pessoas continuam desaparecidas", disse Maria da Glória. A irmã Anísia Rocha de Jesus, 54 anos, concorda. "A gente estava quase perdendo a esperança, agora podemos orar em paz." No meio de tantas sepulturas novas - montinhos de terra marcados com o primeiro nome do falecido -, Adeuvair Rocha de Jesus, outro irmão, fez questão de escrever o nome completo de 'Dió'. O idoso foi sepultado a poucos metros da cova em que está a enteada Valquiria Custódio Pontes da Mota, de 37 anos, que morreu ao tentar salvar o padrasto.

Para Adriano Santos Cardoso, de 20 anos, a busca parece não ter fim. Ele perdeu a mãe, o padrasto e dois irmãos na avalanche que arrastou a casa da família, no bairro Guarda Mão. Até a tarde, apenas o corpo de Silvana dos Santos, a mãe, tinha sido encontrado. Os irmãos Samuel, de 15 anos, e Suelen, de 9, continuavam desaparecidos. Adriano, que viajou de Joinville (SC), onde mora, para acompanhar as buscas, chegou a ajudar os bombeiros, mas não teve mais forças e se refugiou na casa do avô, no bairro Lajeado. De acordo com o delegado da Polícia Civil, Reinaldo Braga, que ontem assumiu a delegacia de Itaoca, as buscas agora chegam a um ponto crítico.

Prejuízo. Pode chegar a R$ 13 milhões, valor de todo o orçamento do município previsto para 2014, o prejuízo deixado pela tromba d'água que atingiu Itaoca. De acordo com o prefeito Rafael Rodrigues de Camargo (PSD), a estimativa dos prejuízos leva em conta os danos já levantados na rede urbana, em propriedades particulares e na zona rural, incluindo as seis pontes que foram levadas pelas águas.

Conforme os dados da prefeitura, 19 casas foram completamente destruídas, cerca de 80 foram danificadas e mais de uma centena precisam de algum tipo de reparo. O sistema viário foi afetado parcialmente na área urbana e, na zona rural, algumas estradas sumiram do mapa. Segundo o prefeito, o município não tem recursos para reconstruir a cidade. "Sem o apoio firme do governo estadual e do governo federal não vamos conseguir." Camargo acredita que, se houver a liberação de verbas emergenciais, será possível refazer o que foi destruído em seis meses. "Podemos deixar a cidade até melhor do que era."

Condenado. O bairro Guarda Mão, o mais atingido pelo temporal, corre o risco de ser condenado pela Defesa Civil e, se isso ocorrer, terá de ser evacuado, segundo o prefeito. "Os técnicos do Instituto Geológico consideraram que a área é de risco e ficou ainda mais instável depois da tromba d'água." O bairro registrou o maior número de vítimas - cerca de 20, entre mortos e desaparecidos. Cinco casas foram arrastadas pela enxurrada que desceu da serra e outras sofreram danos. Milhares de pedras rolaram e foram parar próximo da vila.

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O Guarda Mão tem 22 famílias residentes, segundo o prefeito. "Estamos trabalhando com a hipótese de removê-las para evitar um risco maior." Nesse caso, a expectativa é de que o governo federal construa as casas para os moradores. Famílias tradicionais resistem à ideia de mudança. "A gente criou raiz neste lugar, é difícil falar em mudar", disse Vicente Oliveira dos Santos. O Governo do Estado vai financiar a construção de casas, através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), mas o financiamento não atende à expectativa das famílias mais carentes, que alegam não ter condições de pagar.

Nesta quinta-feira, as frentes de trabalho concentravam-se na limpeza do bairro Lageado e na desobstrução da ponte da Barra, na área urbana, com o emprego de máquinas. O monte de entulho e madeira era retirado para evitar que uma nova cheia no rio Palmital volte a inundar a cidade. A área urbana voltou a receber água e 80% da rede de energia tinham sido restabelecidos. Doações chegavam de todas as partes. O vice-prefeito de Bonsucesso de Itararé, Luis Henrique Campos (PSDB) acompanhou a entrega de um caminhão com mantimentos e utensílios arrecadados na cidade. Alex Sandro Rodrigues, de Iporanga, chegou com uma Kombi lotada de roupas e alimentos.

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